
Vitor Marchi Moreno Dias é natural de Itu (SP), quando era estudante do Ensino Médio ele começou a pesquisar por cursos sobre produção de objetos. O egresso conta que sempre teve uma certa curiosidade de entender sobre montagem e interação das pessoas com eles. Assim, encontrou o curso de Design com habilitação em Produto na Unesp ,em Bauru. Durante seu último ano (2015), o unespiano desejava que seu TCC solucionasse alguma necessidade de seu câmpus e depois de reflexões e pesquisas, Vitor teve a ideia de fornecer alimentação saudável e acessível através de uma geladeira compartilhada.
O projeto foi implementado na prática após a sua formatura, em 2017. A partir de então ficou conhecida como “Geladeira das 50’s”, em referência à numeração das salas próximas, ou “Geladeira das Frutas”, uma vez que Vitor sempre a abastecia com frutas, na busca de disponibilizar uma alimentação saudável.
O projeto do egresso possibilitou que todos pudessem guardar ou vender alimentos na geladeira e as trocas eram feitas na base da confiança. Além disso, os produtos ficam disponíveis 24h, facilitando a alimentação de quem chegava cedo ou saia tarde da faculdade, quando as cantinas já estavam fechadas.
A ideia de colocar um objeto compartilhado no câmpus
Tudo começou na busca de um tema para seu TCC. Na época, o unespiano cursava uma disciplina optativa “Redes de Criação” oferecida pelo Prof. Dr. Dorival Rossi. Esta matéria o colocou fez com que Vitor conhecesse mais sobre os Fab Labs.
O egresso explica: “Nesses espaços as pessoas podem alugar ou utilizar máquinas e ferramentas gratuitamente, como uma impressora 3D, uma cortadora laser ou outras máquinas que são de fácil utilização para quem não é especialista. Porque elas trabalham praticamente sozinhas. Você precisa de um arquivo e do apoio de alguém do laboratório, mas depois as pessoas aprendem a operar as máquinas sozinhas”.
A ideia do uso compartilhado e os princípios de utilização coletiva despertaram a curiosidade do unespiano. Assim, ele começou a refletir sobre os problemas no câmpus, buscando soluções alinhadas com essas ideias.
“Para encontrar uma necessidade, busquei pensar em qual seria um problema para aquelas pessoas, as quais eu estava buscando apoiar por meio de um produto compartilhado. Ali nas salas 50’s, em um dia de muito calor, pensei em formas de amenizar os impactos do calor na vida das pessoas”.
A partir deste raciocínio, o egresso percebeu que muitas pessoas gostavam de cozinhar, mas evitavam levar comida para o câmpus, porque não havia onde refrigerar esses alimentos e eles podiam estragar devido ao calor.

A geladeira coletiva em 2019, quando as trocas eram feitas apenas em dinheiro e moedas. Hoje, a maior parte dessas é feita por pix. Foto: Arquivo pessoal de Vitor.
“Então aliei este interesse de experimentação sobre objetos compartilhados de uso comum, com uma vontade de deixar um presente ao câmpus, como um egresso, alguém que estava saindo”.
Benefícios para o câmpus e financiamento coletivo
Vitor, na época, desembolsou a quantia de R$ 5,2 mil para compra da geladeira com duas portas de vidro. “Eu tinha uma hipótese de que as pessoas iam querer participar do financiamento coletivo depois que a geladeira já estivesse no câmpus e elas já estivessem usando. Ao invés de optar por um financiamento coletivo antes da compra. Eu aliei esse risco com a vontade de deixar um presente para o câmpus, mas como era recém formado busquei um financiamento que me ajudasse a pagar pelo menos uma parte desse presente”.
E foi exatamente isso que aconteceu, em 2019 o valor da arrecadação já havia atingido metade do dinheiro gasto por Vitor. “Se a gente tivesse mantido o ritmo em 2020 e 2021, a geladeira estaria completamente paga e teria um caixa de manutenção. Mas depois da pandemia, decidi que o presente já estava muito bem pago e deixei o restante por minha conta mesmo”.
Entre 2017 até 2019, o financiamento coletivo acontecia com o aluguel das prateleiras. Para refrigerar a comida pessoal, como marmitas, a pessoa alugava o espaço por 5 reais mensais ou 2 reais por semana.
O dinheiro era depositado dentro de uma caixinha que ficava na geladeira. Sem nenhuma fiscalização, apenas a confiança de que as pessoas seguiram a orientação.
Enquanto para quem desejava vender algo aos seus colegas, o aluguel da prateleira era de 10 reais mensais. Vitor sempre procurava estimular que as pessoas vendessem comidas saudáveis na geladeira compartilhada.
Quem comprava os alimentos colocava o dinheiro em outra caixinha, indicada dentro da geladeira. Tudo na base da confiança, pois os produtos permaneciam ali, dispostos para quem precisasse.
Mesmo após a sua formatura, o egresso continuou indo ao câmpus para abastecer a geladeira com frutas. “Eu entendia que era uma forma das pessoas sempre terem alguma coisa saudável para comer e tinha que ser o preço mais barato possível. Fiz esse abastecimento durante um ano e meio. Era importante, também, para manter o interesse das pessoas na geladeira”.
“A melhor coisa foi ouvir os feedbacks positivos e perceber o quanto as pessoas gostam da existência da geladeira até hoje, porque ela ainda funciona”. O egresso ressalta que por ela ficar ligada 24h, mesmo em momentos em que as cantinas estão fechadas, os estudantes não ficam sem ter o que comer.
Vitor também explica que para alunos de baixa renda, a geladeira também auxilia, pois se tornou um ponto onde podem vender alimentos aos demais estudantes. “Fico feliz que a cultura do câmpus se desenvolveu e abraçou a ideia de cuidar e usar a de forma compartilhada e colher os benefícios de forma direta”, afirma.
“Depois de todo esse tempo, tenho a sensação de que valeu a pena investigar este assunto no TCC. Quando alguém fica curioso para saber a história por trás da geladeira, sempre comento sobre a forma como as pessoas utilizam e sobre a confiança envolvida nas trocas. Pois refletem muito do espírito que o câmpus tem. A experiência proporcionou relações de confiança e coletividade entre as pessoas. Isso foi muito bonito de ver. Além de proporcionar uma alimentação saudável e acessível”, conclui o egresso.
Para comentários ou dúvidas sobre o projeto, o egresso disponibilizou seu email: vitor-marchi.dias@unesp.br