
A pandemia já está completando um ano no Brasil e tem prejudicado amplamente todos no estado de São Paulo. Entre os municípios com menos de 100 mil habitantes, Botucatu possui a menor taxa de letalidade e, também, é a 3ª cidade com menos mortes em todo o estado. Esse resultado é fruto de uma ampla força de trabalho, que tem o apoio e a dedicação do egresso André Gasparini Spadaro, como atual Secretário Municipal de Saúde de Botucatu, cargo que ocupa desde 2017.
André Spadaro é graduado em Medicina (1995) na FMB e é cardiologista do Hospital das Clínicas da Unesp em Botucatu (HCFMB), que é um órgão público e atende gratuitamente a população. Durante a pandemia, ele passou a se dedicar exclusivamente à Secretaria da Saúde (SMS), buscando estratégias de gestão para deter o avanço do vírus.
Ele ressalta que mesmo com baixas taxas de letalidade na cidade, ainda não é tempo de celebração. “Já tivemos pouco mais de uma centena de óbitos de cidadãos e vivemos um momento crítico e de agravamento da pandemia em todo o estado e no país. O surgimento de cepas variantes no interior de São Paulo é motivo de grande preocupação e, assim como observado recentemente em municípios como Jaú e Araraquara, com os quais nos solidarizamos, podem transformar e agravar o cenário, em curto espaço de tempo. Precisamos seguir vigilantes e com responsabilidade”.
O médico também ressalta que os bons resultados da cidade se devem ao esforço e união de diferentes instituições: “ Prefeitura Municipal, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina de Botucatu e de toda a UNESP, FAMESP, OS Pirangi, UNIMED, entre outros”, explica. Além disso, há uma relação de apoio entre as pessoas da cidade e o HCFMB, costureiras de Botucatu auxiliaram confeccionar os aventais dos médicos no início da pandemia e, também, houve diversas doações financeiras e de materiais por parte dos cidadãos.
Mudança de Planos
André Spadaro assumiu a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em 2017, quando estava realizando seu doutorado, foi um convite feito pelo prefeito Mário Pardini. Em 2019, o médico defendeu sua tese e se tornou doutor pelo programa de Cardiologia na FMB. Sua pesquisa é sobre o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca devido à doença de Chagas.
Os planos na vida de André eram terminar o mandato na SMS em 2020 e realizar um pós-doutorado nos EUA. Esse sonho era algo antigo na vida do médico “seria uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional, além de uma importante experiência familiar, de convívio com outra cultura e língua. No entanto, todo esse planejamento foi pensado muito antes da pandemia e de o mundo ser assolado pela Covid-19. Dessa forma, em função do trabalho e da responsabilidade com o enfrentamento da pandemia em nosso município, do compromisso com as equipes da saúde, com a população e forte vínculo e lealdade com o prefeito, o sonho do pós-doc fica postergado e sua viabilidade será reavaliada mais para frente, em momento mais oportuno”.
Ciência como aliada
O secretário explica que uma das atividades que contribuiu para a baixa letalidade na cidade foi o desenvolvimento dos testes de Covid-19 no Laboratório de Biologia Molecular do HC. Assim como, o programa de testagem em massa, onde são testados não só os sintomáticos, mas também as pessoas que entraram em contato com a pessoa infectada.
Ele ressalta a criação da Central Coronavírus, onde pessoas com suspeita são orientadas e agenda-se a testagem delas. Além disso, estão fazendo o monitoramento diário de casos suspeitos e confirmados, assim identificam quais são os casos mais severos que precisarão de encaminhamento hospitalar.
O atendimento da rede pública também está sendo feito a domicílio, nem todos os casos precisam de internação, somente os mais graves. Entretanto, todos os infectados precisam de orientação, para evitar mais contaminação.
Há também os teste rápidos “são cerca de 20 mil testes com essa finalidade, para melhor entender o percentual e a dinâmica de contaminação no município, para nortear as ações”. Por fim, a qualidade e excelência nos atendimentos de pacientes internados, em especial de cuidados intensivos, dispensados no Complexo HCFMB e nas unidades da rede hospitalar privada”.
“Assim, o contexto pede muita atenção às medidas de prevenção, monitoramento diário do número de casos novos e de ocupação de leitos, ampliação da oferta de leitos de UTI e de Enfermaria para atendimento de COVID-19, com adoção de medidas pertinentes de acordo com o cenário epidemiológico”, afirma André.
Em ritmo lento a vacinação é a promessa para dias melhores
Segundo o médico, a vacinação de toda a população adulta é a única forma de controle da pandemia. “No entanto, no Brasil, o ritmo da campanha segue muito lento, de modo a não trazer alívio ou qualquer expectativa de retorno à normalidade em médio prazo”.
A expectativa do Governo Federal é atingir a meta de vacinação da população adulta em dezembro. Assim, André ressalta que as medidas de prevenção ainda precisarão ser adotadas por um bom tempo em nosso cotidiano.
Opção por Medicina na Unesp
A escolha por essa área surgiu na infância devido a influência e admiração por seu pai, Joel Spadaro, aluno da primeira turma da FMB, Prof. Titular de Cardiologia, atual Prof. Emérito e ex-diretor da FMB/UNESP. O médico conta que acompanhava o pai nos laboratórios da Unesp e que ele lhe explicava e mostrava sua pesquisa sobre infarto e demais assuntos ligados à cardiologia.
“Entendo que essa influência foi tamanha que acabei escolhendo fazer residência em cardiologia e, curiosamente, especialização em Hemodinâmica/Cardiologia Intervencionista, justamente com enfoque no tratamento do infarto agudo do miocárdio”.
Sobre a Unesp, André relembra que não esperava passar de primeira no vestibular de Medicina, pois naquela época a concorrência já era grande. O estudante estava se preparando para fazer cursinho quando recebeu a notícia da aprovação.
“Para minha surpresa e felicidade, fui aprovado em primeira chamada em Botucatu e na Santa Casa de São Paulo. A escolha para cursar Medicina em Botucatu foi, portanto, pela oportunidade de poder fazer a graduação em uma das melhores Faculdades de Medicina do país e, ainda por cima, na minha cidade natal e na mesma Faculdade cursada pelo meu pai. Foi uma emoção tão grande, que revivo muitas vezes na minha cabeça. Em especial, me lembro em um sábado de estar na sala de casa com minhas irmãs e alguns amigos, calçando um tênis para jogar futebol de salão no BTC, como de costume em todos os finais de semana. Nesse dia, uma tradição local, o resultado do vestibular da VUNESP seria anunciado na rádio. Era um evento, muitos paravam para ouvir o saudoso Plínio Paganini realizar a leitura de todos os nomes dos aprovados. Eu ali calçando o tênis, esperando não ouvir meu nome e sair para jogar futebol, até ouvir logo no início da relação em ordem alfabética as palavras André Gasparini... não cheguei a ouvir o Spadaro, nesse momento já estava atônito, incrédulo, deitado no chão da sala e recebendo abraços dos presentes”.
“Meus pais estavam em uma viagem de trabalho e não havia como nos comunicar na época. Para não me pressionar com os resultados, decidiram me ligar apenas 2 dias depois, quando a vontade de contar a novidade não cabia mais no peito. Minha irmã atendeu o telefonema e transferiu pra mim, não sem antes dizer ao meu pai: “espera um pouco que vou passar a ligação para o mais novo médico da UNESP”. Não é preciso dizer que os primeiros minutos de ligação foram quase que ininteligíveis, diante da emoção e do choro de cada lado".
Ele ressalta que a formação na Unesp foi essencial para sua formação profissional e pessoal. “A formação médica na UNESP é muito reconhecida e os profissionais são muito valorizados no mercado de trabalho, justamente pela base técnica, humana e ética, decorrente do aprendizado na graduação em Botucatu”. André também afirma sentir saudade dos momentos da graduação, vividos com a XXVIII turma de Medicina da FMB. Ele também conta que está ansioso para retornar a suas atuações como médico cardiologista, quando a pandemia acabar.