Egresso assume cargo público como engenheiro na Califórnia | Alumni Unesp
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Publicado em:
19/05/2025
19/05/2025
Tempo de leitura: 7 min

Egresso assume cargo público como engenheiro na Califórnia
A sua 1ª experiência internacional foi na Unesp e o motivou a seguir uma carreira no exterior



Gustavo Dourado nunca tinha saído do Brasil até ingressar na graduação em Engenharia Agronômica na Unesp, no câmpus de Jaboticabal, em 2009. Na faculdade teve a oportunidade de realizar um intercâmbio na Universidad Nacional de La Plata (Argentina) e na Kangwon National University (Coreia do Sul). O egresso conta que as experiências foram enriquecedoras e o motivaram a, posteriormente, buscar empregos nos Estados Unidos. Ele acaba de ser efetivado no país, no dia 16 de maio, em um cargo público como engenheiro de recursos hídricos na Unidade de Previsão de Abastecimento de Água da Califórnia.


Venho de uma família simples e nunca tinha conhecido lugares diferentes da minha realidade. Na época, descobri a seção de intercâmbios no site da Unesp e enxerguei ali a chance de tentar algo novo. Quando fui selecionado para o programa na Argentina, mal pude acreditar. Lá, tive a oportunidade de conhecer pesquisadores estrangeiros, participar de dias de campo, visitar produtores e aprender técnicas novas. Isso me motivou a buscar outra vivência ainda na Coreia do Sul. E, depois disso, no mestrado, continuei procurando oportunidades internacionais para ampliar meus horizontes. Essas experiências me mostraram o quanto morar fora pode ser enriquecedor, tanto no lado pessoal quanto profissional”. 


Gustavo afirma que adora o Brasil, “a cultura, a comida e o povo”, como ressalta, mas não conseguiu se encaixar no mercado de trabalho. Após a formatura, ele realizou diversas entrevistas de emprego, mas conta que por não ser tão comunicativo acabou não tendo resultados positivos nas seletivas. Isso fez com que ele mudasse o seu foco para oportunidades internacionais. Assim, em 2015, optou por cursar um mestrado em Tecnologias Ambientais na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), onde realizou outro intercâmbio para a University of British Columbia (Canadá). 


Depois de se tornar mestre, ele também tentou realizar concursos públicos no Brasil e chegou a ficar a uma posição de distância para ser convocado. O egresso conta que se sentiu frustrado nesta fase em que “tudo parecia dar errado” em sua carreira profissional no país. 


Foi neste momento que realizou a escolha de passar em um doutorado nos Estados Unidos. Na UFMS e na universidade canadense, Gustavo já tinha adquirido experiência nas áreas de Hidrologia e Hidrogeologia. Ele também realizou cursos sobre águas subterrâneas e manejos de bacias hidrográficas, por exemplo. Essa bagagem o motivou a escolher estudar sobre recursos hídricos no doutorado.


Assim, o egresso foi aprovado na University of California no programa de “Sistemas Ambientais” em 2019. A bolsa que conseguiu demandava que ele trabalhasse como assistente de pesquisa de um professor. Hoje, ele atua com os conhecimentos adquiridos na graduação e em suas pós-graduações.


Gustavo trabalha na Divisão de Operações e Manutenção do Departamento de Recursos Hídricos da Califórnia (DWR). Os funcionários dessa unidade têm uma tarefa desafiadora para cumprir: transportar água do norte para abastecer o sul do estado. Isso ocorre por meio do bombeamento hídrico em canais de águas subterrâneas.


“A gestão hídrica na Califórnia é complexa, porque 75% da precipitação [chuva] ocorre no norte, enquanto 75% da população está no sul, como na região de Los Angeles. Trabalhar nesse sistema requer um equilíbrio constante entre demandas humanas e restrições ambientais, sendo um desafio técnico e estratégico", explica o engenheiro. Em paralelo ao transporte da água, os funcionários do setor precisam proteger o ecossistema da Baía de São Francisco e garantir a preservação de espécies nativas de peixes. Ele ressalta que outro fator que complica a distribuição hídrica é o fato da população local gastar água em excesso.


Além de ser um engenheiro de recursos hídricos, o egresso começou a trabalhar, no primeiro semestre deste ano, como professor na Faculdade de Yuba, nos cursos de “Agricultura de Precisão” e "Preparação da Força de Trabalho Agrícola", tópicos relacionados à sua graduação na Unesp.


Atuação como funcionário público no EUA


Gustavo explica que a seleção para um cargo público nos EUA não ocorre por meio de concursos como no Brasil. “Passei por um ano de período probatório, durante o qual fui avaliado por meu supervisor. Um desempenho insatisfatório nesse período poderia levar à demissão. Após essa etapa, o cargo se torna estável, de maneira comparável à estabilidade de um servidor no Brasil”, destaca.


O unespiano conta que ser um funcionário público garante benefícios, como jornadas de trabalho moderadas e com mais flexibilidade em relação às férias. O cargo oferece aposentadoria e planos de saúde, odontológico e oftalmológico. “Esse tipo de cobertura é importante nos EUA, onde os custos com saúde podem ser altos. Por exemplo, paguei o equivalente a 3 dólares em um exame no Brasil, aqui o mesmo procedimento pode custar 70 vezes mais”, alerta Gustavo.


O engenheiro conta que estrangeiros podem ocupar cargos públicos nos EUA, desde que não sejam federais, seu trabalho, no caso, é ligado diretamente ao estado da Califórnia. Para isso, é preciso ter um visto com permissão para trabalho. 


Xenofobia com brasileiros nos EUA


Gustavo conta que se adaptou bem ao novo país, mas já sofreu xenofobia em alguns monentos. Ele explica que por ser uma pessoa branca passa “despercebido” entre a população, entretanto, o preconceito surge quando pessoas descobrem que ele é latino e brasileiro.


“Ao saberem que sou do Brasil, já senti algumas reações sutis de desinteresse ou estereótipos negativos, como comentários depreciativos sugerindo que o Brasil seria perigoso, atrasado ou inferior. Perguntas tolas como: ‘Onde fica este estado dos EUA?’ ou ‘O Brasil fica na África?’. Um dia um americano percebeu que era estrangeiro e me perguntou o que eu vim fazer nos EUA, respondi que vim cursar doutorado, ele disse que ficou surpreso porque não pareço inteligente e que meu inglês ‘é até meio bom’ para um estrangeiro. Um dos episódios mais extremos foi o de um americano desconhecido que, pelas redes sociais, me atacou verbalmente e chegou a desejar minha morte apenas por eu ser de fora”, lembra o egresso.


O engenheiro destaca que essas situações são exceções em sua rotina, mas refletem uma realidade enfrentada por imigrantes. “Mesmo quando estamos integrados, ainda somos lembrados de que não pertencemos completamente à sociedade. Ainda assim, tento focar nas oportunidades que tenho, nas conexões boas que construí e na contribuição que posso dar como profissional e sendo o único cidadão latino no meu grupo de trabalho”, ressalta.


Dicas para quem deseja estudar no exterior 


O egresso ressalta que a graduação é um período em que o estudante pode aprender e usufruir de diversas formas da universidade. “Por ser uma instituição de renome, a Unesp possui convênios de intercâmbio e até programas de dupla titulação, que podem abrir portas para um mundo novo. Esses programas geralmente exigem boas notas ou uma boa classificação na turma, então vale a pena se dedicar”, afirma.


Outro ponto para quem deseja um projeto internacional é estudar uma língua estrangeira para passar nos testes de proficiência que são requisitados. A participação em projetos de pesquisa, extensão e estágios também são maneiras de destacar o currículo. 


“Para quem busca uma pós-graduação nos EUA, é possível tentar ir direto da graduação para o doutorado, se o seu currículo for forte. Se não se sentir pronto, recomendaria investir em um mestrado no Brasil antes, para ganhar mais bagagem acadêmica. A experiência profissional também conta bastante, pois demonstra responsabilidade. Independente da área, habilidades em programação e análise de dados são valiosas hoje em dia. E, claro, é fundamental conhecer os requisitos de cada país e universidade”, destaca o egresso.


Relação com a Unesp 


Gustavo conta que estudar na Unesp foi uma contribuição para sua carreira, pois “é uma excelente universidade", segundo ele, e deu bases para que ele se tornasse o profissional que desejava ser. 


O unespiano conta que se sente em casa quando volta ao seu câmpus e que a Unesp ainda é sua universidade favorita, mesmo após ter estudado em tantas outras. Ele destaca que a universidade forma profissionais completos, devido a quantidade de disciplinas obrigatórias e possibilidade de cursos complementares.


“Eu que cresci enfrentando bullying na escola e tive algumas questões psicológicas, durante muito tempo acabei me retraindo e me sentia incapaz. Estudar fora não foi apenas uma conquista acadêmica, foi uma jornada de superação e autoconhecimento. Fiz amigos de vários países, viajei sozinho, aprendi línguas, dirigi em nevascas, vi a aurora boreal, venci medos e me reencontrei. Serei eternamente grato à Unesp por possibilitar por tudo isso”, declara o egresso.



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