Como a UNESP está ajudando Franca a se desenvolver | Alumni Unesp
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Publicado em:
28/09/2018
28/09/2018
Tempo de leitura: 7 min

Como a UNESP está ajudando Franca a se desenvolver
Projeto, alinhado a Agenda 2030 da ONU, visa criar estratégias para o crescimento da cidade


O ano é 2018, mas a gestão municipal de Franca, junto com a UNESP, outras instituições privadas e órgãos da cidade estão trabalhando para um 2030 possível. Inspirado na iniciativa da Faculdade de Ciências e Letras, da UNESP Araraquara, e no Programa de Metas da "Rede Nossa São Paulo", o Projeto Franca 2030 deverá entregar um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo para o município, seguindo as diretrizes da "Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável", da ONU.


Quem nos conta sobre esta iniciativa é o Prof. Dr. Murilo Gaspardo, Diretor da UNESP Franca. Para ele, estratégias para integrar a sociedade francana ao desenvolvimento da cidade são o ponto chave desta ação. “Ele não pode ser um projeto nem da atual administração municipal nem da atual gestão da UNESP, tem que ser uma coisa enraizada na sociedade. É fundamental que a sociedade civil compre e se engaje nesta ideia”, afirma o diretor.


Fala de Gaspardo vai ao encontro da proposta da Secretaria de Desenvolvimento para o agora: “a ideia principal, neste momento, é de dar oportunidade a todos interessados da sociedade civil participarem e contribuírem com sugestões em um evento com mediadores em cada grupo temático estabelecido”, declarou Flávia Olivito Lancha, Secretária Municipal de Desenvolvimento.


Tecnologia Social

O Prof. Murilo Gaspardo conta que o projeto surgiu da necessidade de ampliar o diálogo da universidade com a sociedade, e que não é uma ação pioneira: foi em contato com o Prof. Flávio Paiva, de Araraquara que a ideia começou a ganhar formas. “Fui até lá e tive uma conversa com ele, ele me contou o que está fazendo em Araraquara, me mandou o projeto, trocamos informações e comecei a articular aqui com a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Desenvolvimento”, explica Gaspardo.


Ainda assim, é a primeira vez que acontece uma iniciativa que une todas as universidades de Franca e o poder público. “Este formato traz maior engajamento e facilita a efetividade do evento para discussão dos principais pontos para o desenvolvimento de nosso município e região, bem como para que dessa discussão tenhamos projetos novos saindo do papel e muitos resultados para a população local”, considera Lancha.


As reuniões desta iniciativa começaram em julho. O Projeto ainda está fase preliminar e, de acordo com o Prof. Murilo, a expectativa é de que até o final do ano o formato do projeto esteja pronto. “O que tem de mais concreto agora é o método, com a ideia de articular o projeto aos programas de pós-graduação, tanto com os alunos quanto com os docentes, vincular as pesquisas a essas práticas. Eu acho que há uma perspectiva interessante nessa linha”, comenta o professor.


O Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa, livre-docente em sociologia da UNESP Franca, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas, e também o grupo de pesquisa Estudos em Direito e Mudança Social “DeMuS” articula as possibilidades de desenvolvimento deste projeto junto a sociedade: “No caso de Franca, por exemplo, como a pesquisa em Serviço Social, um dos cursos da unidade, pode ajudar a pensar redes de colaboração produtiva, de financiamento e de logística formada microempreendedores que possam servir para diminuir sua vulnerabilidade (se pensados individualmente) diante das grandes corporações? Como a pesquisa em Relações Internacionais pode vislumbrar a perspectiva de inserção de microprodutores em mercados não-convencionais ao redor do mundo, valendo-se de referenciais da economia solidária, do comércio justo (fair trade), etc.?”


Para ele, todo esse potencial fomenta a “geração de ‘tecnologia social’, que evidencia a possibilidade de engendrar inovação de nova espécie (diferente da qual estamos acostumados a esperar quando tratamos desse assunto), que num ambiente no qual mais de 2/3 do emprego dependem da microempresa pode fazer muita diferença”.


Capital Nacional do Calçado

Com quase 350 mil habitantes, segundo as estimativas populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), Franca está localizada no nordeste do Estado de São Paulo. Em 2016, o município foi reconhecido pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) como a 20ª mais desenvolvida.


O que movimenta a economia são as atividades agrícolas e industrial. Ainda de acordo com o IBGE, Franca é uma das mais importantes regiões produtoras de café no país; na área industrial, o destaque é a produção de calçados de couro - tanto que a cidade é conhecida como a Capital Nacional do Calçado. Por lá, a média dos rendimentos é de 2,1 salários mínimos. ⅓ da população está formalmente empregada; outros ⅓ vive com até ½ salário mínimo. Em 2015, o PIB per Capita foi de R$ 24.679,09 (total de riquezas produzidas na cidade foi avaliado em R$ 8,4 bilhões).


Com esta configuração, percebe-se que o município reproduz a desigualdade social e a concentração de renda brasileira, bases estruturais do Brasil. Isso porque, mesmo com um PIB alto, menos de 30% da população está formalmente empregada; enquanto isso, a mesma proporção indica as pessoas que vivem com R$ 15,60 por dia. Vale comentar que a cidade é potencial agropecuária, industrial e tem vocação para os serviços, o que permite delinear a possibilidade de um desenvolvimento convergente com a realidade local.


O Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa, Coordenador do Programa de Pós-graduação em Planejamento e Análise de Políticas Públicas, e também compõe a comissão da UNESP que participa do Franca 2030, é quem ressalta esta observação:


“A gestão pública em Franca ainda se mostra presa a paradigmas do século XX. Em outros lugares do mundo, mesmo na periferia do capitalismo, como na Ìndia e no México, a gestão local já planeja suas ações pensando em questões como criação de um ambiente propício à inovação, alternativas de geração de emprego e renda por meio de fomento público e/ou busca de colaboração internacional para projetos conjuntos. Em Franca, a administração local vê questões como essas como de alçada de outros entes públicos, como o governo estadual e federal”, pontua.


“Franca é uma cidade em que a desigualdade é uma característica muito forte nas suas múltiplas perspectivas, tanto no tema de renda como na segregação urbana”, declarou o Prof. Dr. Murilo Gaspardo. Esse é um dos motivos que o leva a acreditar que a redução da desigualdade, um dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, será uma meta do projeto.


2030

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas foram anunciadas pela Organização das Nações Unidas em setembro de 2015. Esta agenda atualizou as Metas do Milênio, um compilado de oito objetivos internacionais para o desenvolvimento até 2015, estabelecidos em 2000, depois da Cúpula do Milênio das Nações Unidas.


A Agenda 2030, como é referido o documento que reúne todas as metas para os próximos 12 anos, pretende pautar as principais ações sociais em prol do desenvolvimento social, econômico e ambiental de maneira sustentável. O esforço visa concretizar os direitos humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento feminino.



Para Flávia Olivito Lancha, Secretária de Desenvolvimento, “considerando a abrangência dos temas dos 17 ODSs da ONU, [esta iniciativa] traz uma discussão completa para o município e fortalece a união e cooperação entre o setor acadêmico e demais cooperadores da governança local não deixando de fora nenhum tema relevante da discussão para o futuro de Franca”.


Além da redução das desigualdades, o Prof. Dr. Murilo Gaspardo também citou as metas relacionadas à saúde e educação, por exemplo. “São várias perspectivas. A questão da saúde é muito importante, então tem uma instituição que trata disso; a educação é outro tema transversal que aparece; e a discussão ambiental em si, envolvendo a cidade sobretudo em termos de áreas verdes, de saneamento, mobilidade urbana, transporte coletivo”.


Projeto para a cidade

“A proposta é trabalhar uma série de ações com a cidade para o diagnóstico e um planejamento estratégico de Franca nas perspectivas econômicas, social, urbana e rural”, aponta Gaspardo. “O projeto é para a cidade”.


Formado pelo câmpus de Franca, o Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa acredita que a pesquisa demanda também sensibilidade ao que está no entorno. “Estar na UNESP, seja como estudante ou como docente, sempre coincidiu com o ‘viver a cidade’; quaisquer questões que me afiguram como um problema científico, se apresentam também como parte de minhas vivências, como parte do vivido pelas pessoas à minha volta”.


Barbosa fez a graduação em História em 1995 e o mestrado na mesma unidade da UNESP. Durante o doutorado, realizado na UNESP Araraquara e com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP), ele se debruçou sobre as especificidades que marcaram a formação do empresariado industrial calçadista local em face do mesmo processo em âmbito nacional.


Depois do doutorado, em pesquisa financiada pelo Programa Jovem Pesquisador da FAPESP, estudou as estratégias do empresariado industrial local diante do processo de reestruturação capitalista em curso a partir das décadas de 1980/1990 no Brasil. Entre 2009 a 2013, já como docente da UNESP, se dedicou a compreender o impacto das políticas de desenvolvimento dos governos federal e estadual no desempenho do arranjo produtivo calçadista na primeira década do século XXI, pesquisa que foi publicada em 2016 pela Editora UNESP. “Minha participação no projeto se deve ao conhecimento acumulado nessas duas décadas acerca da dinâmica do território. Conhecimento esse que pode servir para ajudar a projetar as perspectivas futuras do que se espera para o desenvolvimento do município”, declara o professor.


Para Barbosa, a UNESP contribui com o desenvolvimento de Franca quando busca a "tradução" daquilo que a universidade produz em forma de ideias e sua possibilidade de produzir intervenção prática. “Uma das vantagens da UNESP é justamente sua interiorização, o fato de conviver com ambientes econômico-sociais diversos e, com isso, poder pensar alternativas de desenvolvimento fora do paradigma dos grandes centros. Entendo como produção de ideias e sua "tradução" para a prática a inventividade diante de realidades econômico-sociais singulares”, conclui.


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