
O desejo de transformar a realidade foi a verdadeira motivação de Thamires Magalhães Motta ao escolher seu curso, a jovem é formada em Jornalismo pela Unesp, câmpus de Bauru. Durante a sua trajetória universitária, profissional e pessoal, a jornalista sempre esteve engajada com causas sociais, especialmente, com o feminismo.
Desde cedo, antes mesmo da graduação, Thamires tem se envolvido com projetos de proteção à mulher, ela conta que escolheu ser jornalista para “ajudar a ampliar as vozes daquelas mulheres e denunciar situações de violência”. Dentro da Unesp, foi uma das fudandoras do primeiro coletivo feminista do câmpus, o Coletivo Abre Alas. Esse projeto era um local de amparo, desabafo, escuta e denúncia, onde as garotas buscavam acolhimento. Infelizmente, ela relata que a criação do grupo não ocorreu de forma simples, elas enfrentaram preconceitos e ataques pessoais, voltados às mulheres participantes.
Hoje, ela continua engajada com os movimentos sociais e utiliza suas habilidades jornalísticas para produzir conteúdo feminista, com foco em causas LGBTQs, assim dando destaque à essas pautas. Thamires é fundadora do site da Casa de Labrys e, também, utiliza o Instagram para divulgar esse projeto.
Além disso, a jornalista é editora WEB no Serviço Social do Comércio (Sesc) Guarulhos, em São Paulo. Em seu dia-a-dia tem contato com pautas sobre música, teatro, cinema, alimentação, meio-ambiente, esporte, sociedade e educação. “No Sesc a gente respira e expira cultura o tempo todo”, conta, ela é responsável pela Assessoria de Imprensa e Mídias Sociais da organização.
Em entrevista com a equipe do Alumni, Thamires contou sobre suas experiências na Unesp, sua relação com o trabalho e sobre a necessidade de termos coletivos feministas nos câmpus:
Nos conte um pouco sobre você, por que optou por cursar Jornalismo?
Eu costumo dizer que escrevo desde antes de aprender a escrever. Desde criança mesmo. Encontrei o Jornalismo, no entanto, por acaso, quase de supetão. Antes passei por Relações Internacionais e Design, e num período de muitas dúvidas sobre qual carreira seguir, fiz um acompanhamento psicológico com esse objetivo, o Jornalismo surgiu como uma opção interessante. Foi um período em que trabalhava diretamente com mulheres vítimas de violência.
Eu busquei entender melhor sobre essa profissão e me inscrevi no vestibular da Unesp, um dia antes de encerrar. Na realidade, eu não tinha certeza absoluta sobre esse caminho, a minha maior motivação se deu ao descobrir que, por meio do Jornalismo, eu poderia ajudar a ampliar as vozes daquelas mulheres, denunciar aquelas situações.
Quais foram as principais contribuições da Unesp para sua formação pessoal?
As contribuições foram inestimáveis - não só da estrutura universitária, salas de aula, professores, debates -, mas principalmente pela cidade em que esse câmpus está inserido. Bauru é uma cidade que pulsa, impulsiona e ensina todos os dias, e que faz girar a força motriz que engrandece a universidade. Meu aprendizado foi inestimável, fosse dentro de sala de aula, fosse nos Centros Acadêmicos, coletivos, projetos de extensão, pesquisas de campo ou conselhos universitários. Fiz parte de muitos espaços, dentro e fora dos muros da Unesp e acredito que isso tenha me tornado mais humana, mais empática, mais inconformada e com mais vontade de mudar o que está ao alcance das mãos.
E para sua formação profissional?
A estrutura da universidade ainda enfrenta uma série de desafios para conseguir proporcionar aos alunos experiências profissionais mais próximas da realidade, mas eu acredito que até mesmo a ausência dessas questões nos ensina a enfrentar o mundo.
Pelo menos na minha época, o ensino era muito voltado para a pesquisa científica, sem ofertar um equilíbrio entre outras possibilidades profissionais. Por questões pessoais, entrei no mercado de trabalho muito cedo e trabalhei durante toda a graduação, tornando mais difícil a execução da pesquisa científica. Mas o que a Unesp me ensinou em termos de humanidades, fazer jornalístico, visão de mundo, investigações da realidade, auxiliou muito meu desenvolvimento profissional.
Você acha importante a manutenção de um coletivo feminista na Unesp? Por que?
Fui uma das fundadoras do primeiro coletivo feminista da Unesp, o Coletivo Abre Alas. Era um período em que essa discussão estava muito em voga, víamos uma urgência em falar e fazer feminismo sem que o academicismo nos distanciasse. Mas foi uma época muito difícil, enfrentamos perseguições, ataques e muito backlash [reação a uma decisão judicial, motivada por teor político] com a criação de um espaço de discussão verdadeiramente revolucionário. Foi o primeiro contato de muitas mulheres com o que era a ideologia feminista, e o primeiro espaço seguro para muitas delas desabafarem e denunciarem.
É imprescindível que uma universidade como a Unesp tenha não só um, mas vários coletivos feministas, que deveriam contar com apoio institucional. Não são só grupos de discussão, são locais onde levamos a realidade e a transformamos para alterar as estruturas de um mundo profundamente desigual e violento para nós. A universidade nunca perde por apoiar e garantir a sobrevivência de espaços como esse, pois são locais de troca de saberes e conhecimento, de crescimento, de aprofundamento e,também, de pesquisa.
O que é a Casa de Labrys e quais são as motivações para exercer esse projeto?
A Casa de Labrys foi o meu Trabalho de Conclusão de Curso. Éramos uma equipe composta por mulheres de diferentes cursos e profissões, criando reportagens, matérias, entrevistas, HQ’s, de fundamentação jornalística, sobre mulheres. Basicamente, Jornalismo colaborativo de visão interseccional de raça, classe e sexualidade. A Casa de Labrys era um site jornalístico feminista interseccional e o projeto foi construído baseado nas teorias de Angela Davis e Audre Lorde. As reportagens falavam sobre desigualdade de gênero, sexualidade sem tabus, racismo, LGBTfobia. As motivações eram ajudar a ampliar a discussão sobre esses temas dentro e fora da internet.
Como é o trabalho que você exerce no SESC?
Atualmente, eu sou Editora WEB no Sesc Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, mas comecei com o mesmo cargo em Presidente Prudente, interior do estado. Sou responsável pela criação, planejamento e execução das mídias sociais da unidade, reportagens institucionais, além da criação e edição audiovisual, como vídeos, fotografias, ensaios e podcasts. Acompanho a execução das atividades culturais, fossem as presenciais ou, atualmente, as realizadas na modalidade à distância; entrevisto artistas, produtores, técnicos e todas as pessoas envolvidas na produção cultural como um todo.
Seu trabalho no SESC te permite ficar mais próxima de atividades culturais?
No Sesc a gente respira e expira cultura o tempo todo. Todas as atividades que exerço são relacionadas a programação cultural da unidade, seja ela na área de música, teatro, cinema, alimentação, meio-ambiente, esporte, sociedade, educação…
É uma experiência pela qual sou apaixonada, pois ensina muito todos os dias. Há dias que começo gravando um vídeo de alimentação, passo a tarde dialogando com educadores sobre a criação de espaços sociais mais inclusivos, e termino o dia criando, junto ao público das redes sociais, criando uma discussão sobre a importância da educação não-formal para o desenvolvimento de uma sociedade. É um trabalho muito diverso, com uma amplitude de atuação, em que a gente busca ficar mais próximo do público, aprender e ensinar ao mesmo tempo. É realmente muito prazeroso!
Quais conselhos você daria para a geração de mulheres que está entrando na graduação agora?
Participe dos espaços deliberativos e de discussão discente dentro da universidade, dos centros e diretórios acadêmicos, dos coletivos, dos projetos de extensão. Se necessário, crie-os. Faça pesquisa, pense na sua carreira, mas divirta-se também!
Fora de sala de aula é onde surgirão as experiências mais desafiadoras e impactantes, é onde se criam as oportunidades de transformar sua vida enquanto estudante. Mas principalmente, envolva-se de verdade com a cidade que os acolheu, com a comunidade, com o universo que existe além da Unesp, pois lá é o encontro com a realidade.
E enquanto a realidade não for satisfatória, transforme-a, seja com pequenos ou grandes passos. Entrar em uma universidade pública é um privilégio. Utilize-o para devolver à sociedade o investimento que está sendo feito em você.