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Apesar de proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, os cigarros eletrônicos são vendidos no Brasil. Estima-se que 1 milhão de brasileiros já experimentaram esses dispositivos, sendo a maioria jovens de 15 a 24 anos, segundo o Ministério da Saúde. A médica e professora assistente da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB - Unesp), Suzana Erico Tanni, ressalta que os riscos à saúde são similares aos causados pelo fumo convencional, mas existem agravantes.
Suzana é médica, doutora em Fisiopatologia e livre docente em Pneumologia pela FBM, onde atua como professora associada. Ela afirma que os riscos dos vapes são similares aos causados pelos cigarros comuns, como condições crônicas não transmissíveis, cânceres e eventos agudos cardiovasculares, ao exemplo de infartos ou acidentes vasculares cerebrais (AVC).
A pesquisadora ressalta que os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) ainda apresentam agravantes, pois podem causar os malefícios de forma mais rápida, devido ao seu alto consumo. Ela ainda destaca a Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico ou Vaping (EVALI).
“Muitos jovens consomem e sentem segurança no uso, mas qualquer um pode ter EVALI, independente da dose ou tempo de uso”, explica. Essa lesão é causada pelos líquidos inseridos nos vapes, como acetato de vitamina E e nicotina de base livre, conforme pontuou o Jornal da Unesp. Os sintomas causados envolvem dificuldade para respirar, tosse, dor no peito, desconforto abdominal, náuseas, vômitos, diarreia, cansaço extremo, febre e perda de peso significativa.
Devido ao evento que ficou conhecido como “surto de Evali” em 2019, quando 2800 casos e 68 mortes foram confirmadas nos Estados Unidos, a indústria alterou os componentes e passou a utilizar o sal de nicotina, de acordo com o Jornal da Unesp. Entretanto, não há fiscalização sobre as substâncias presentes nos cigarros eletrônicos no Brasil, uma vez que são ilegais.
A alteração dos componentes não tornou o produto seguro, pois os sais de nicotina geram a dependência mais rapidamente, como explica a médica. A substância é absorvida com facilidade e de forma rápida pelo corpo.
“DEFs não utilizam as regras do controle de vendas para o fumo e derivados, pelo contrário, usam estratégias para facilitar a adição [vício] ao produto e a nicotina, com sabores artificiais e outras substâncias que mascaram as lesões tóxicas e irritativas dos vapes, sem falar nos altos níveis de sais de nicotina que podem ser identificados nestes produtos, o que facilita ainda mais a dependência”, destaca.
A nicotina estimula a liberação de dopamina no cérebro, a sensação de prazer causada gera o vício. “A liberação de neurotransmissores no sistema nervoso central, que causa a sensação de bem estar é o elo da continuação do uso, pois esta sensação não é perene, pelo contrário, ela é fugaz e na sua ausência causa sensações desagradáveis como irritação, dificuldade de concentração, o que leva o usuário a repetir o ato de fumar para obter a mesma sensação”, explica a egressa.
Proibição ou legalização
Há dois Projetos de Lei (PL) em discussão no Brasil, o PL 2158/2024 que versa sobre proibição da fabricação, importação e comercialização dos cigarros eletrônicos, e o PL 5008/2023 que defende o exato oposto: a legalização. Esse o está aberto a votação popular no site do Senado Federal.
“A minha opinião é que a comercialização dos cigarros eletrônicos ainda deve permanecer proibida. A justificativa, de forma clara, se baseia na falta de evidência científica que sustente o produto como inofensivo ou como auxiliar para cessação tabagística”, afirma a médica.
O PL de legalização defende que o governo arrecadaria impostos com a legalização dos DEFs, entretanto ignora que as doenças causadas pelos vapes também seriam tratadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que levaria ao aumento dos gastos da máquina pública.