Como este ex-aluno da UNESP tem transformado realidades por meio da educação | Alumni Unesp
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Publicado em:
22/08/2018
22/08/2018
Tempo de leitura: 8 min

Como este ex-aluno da UNESP tem transformado realidades por meio da educação
Orientador de um projeto brasileiro escolhido pela NASA, Tiago Bodê fala sobre seus projetos na área da educação



Ele levou os alunos para o espaço. Não literalmente, mas foi o orientador da Missão XII, projeto que desenvolvido por estudantes brasileiros de 12 e 13 anos que foi enviado à Estação Espacial Internacional pelo Student Spaceflight Experiments Program (SSEP), programa do Centro Nacional para Educação Científica para Terra e Espaço (NCESSE) da NASA.


Nesta entrevista, Tiago Bodê, que é ex-aluno da UNESP Botucatu, nos conta a sua relação com a educação, a participação pioneira do Brasil em um programa espacial da NASA e o que tudo isso tem a ver com a UNESP.


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Alumni UNESP: Conte-nos um pouco da sua trajetória...

Tiago Bodê: Eu entrei em 2006, na UNESP em Botucatu, no curso de Ciências Biológicas. Foram cinco da graduação na UNESP, depois eu me formei e fiz algumas disciplinas como aluno especial da UNICAMP. Fui para a Universidade de Birmingham na Inglaterra, onde eu fiz uma parte do bacharelado. Aí voltei para o Brasil, fiz mestrado na USP, e agora faço no doutorado na USP também. E uma parte do doutorado eu fiz agora, nas férias, na Universidade de Columbia.



E sobre os projetos, o que você fez na faculdade?

Eu participei de muitos projetos durante a graduação, de muitos tipos diferentes por causa das bolsas. Então acabava uma bolsa eu conseguia outra porque eu fazia parte de vários grupos. Então eu participei da Semana da Bio, do Centro Acadêmico, de alguns programas de iniciação científica, do teatro… e um dos projetos que eu trabalhei com mais afinco foi o cursinho.


E aí teve alguns grupos esporádicos como o grupo de pesquisa na Zoologia. Depois eu fui para a educação, fui bolsista FAPESP por dois anos, e a partir daí comecei a engatinhar a minha trajetória com na área. Mas desde o começo eu sempre quis trabalhar com educação.


Como você comentou sobre o cursinho, de que forma o contato com o projeto colaborou para a sua formação como professor?

Eu vim de escola pública, de uma origem bem humilde e passei no vestibular por causa do cursinho comunitário. Quando eu entrei na universidade eu falei: “eu quero trabalhar no cursinho”. Desde a primeira semana de UNESP até eu me formar eu trabalhei no cursinho; foram horas como professor, como coordenador geral, tudo o que foi possível fazer lá dentro eu fiz, eu participei.


O cursinho, para mim, é um espaço de muita identificação. Como eu vim da escola pública, as condições de acesso eram muito difícei. Poder participar do cursinho é um reconhecimento e uma satisfação muito grande porque eu encontrei pessoas que estavam na mesma posição que eu estive anos antes. E eu aprendi muito com elas, também pude ajudar, de certa forma, a passagem delas para a universidade.


Quando eu entrei lá [no cursinho], a cada a dia que eu trabalhava eu pensava: “é realmente isso que eu quero fazer, eu quero trabalhar na educação para ajudar as pessoas que querem ter acesso a universidade”. Eu faço disso uma filosofia de vida até hoje. Não só no cursinho, mas vejo a educação como um instrumento de transformação social e eu quero lutar por isso para o resto da minha vida.



Quais foram as suas experiências com a educação?

Antes de eu entrar na faculdade eu dava algumas aulas esporádicas; formalmente, depois que eu entrei na universidade, eu dei aulas no cursinho. E aí, depois que eu me formei em entrei em algumas escolas: eu fui professor de uma escola técnica e de um colégio pré-vestibular, onde eu trabalhei por dois ou três anos e dava aulas para os ensinos fundamental e médio.


Após esse período, eu ingressei no mestrado, fui para São Paulo e lá trabalhei em outras instituições. Uma das que é mais conhecida é o Projeto Âncora, que é uma escola baseada na Escola da Ponte, de Portugal; é muito legal porque é uma escola que não tem sala de aula, não tem divisão por série nem idade; os alunos desenvolvem as habilidades e competências de uma forma bem diferente do que é tradicional.


Quando eu terminei o mestrado eu fiz a seleção para um colégio bem tradicional em São Paulo, que é onde eu trabalho hoje, o Colégio Dante Alighieri. É uma escola que tem mais de 100 anos, tem uma tradição e conta com mais de 5 mil alunos, é um escola bem estruturada.



E foi nesta escola que você orientou o projeto que foi enviado a Estação Espacial Internacional (ISS), em junho deste ano?

Isso! Para explicar sobre o projeto, basicamente a NASA tem várias vertentes, e uma dessas vertentes é educativa, a Kennedy Space Center. E aí existia um projeto, que eles chamam de missão, que chama Student Spaceflight Experiments Program (SSEP), um programa para estimular estudantes da rede básica a se interessarem pelo espaço.


E a primeira vez na história que um país fora os Estados Unidos e o Canadá participam dessa missão. Há onze anos os Estados Unidos e Canadá escolhem projetos de algumas escolas e enviam para a Estação Espacial Internacional, um laboratório que fica orbitando a Terra e que tem algumas condições que são muito diferentes daqui, como a microgravidade. A nossa missão é a XII.


Nenhum outro país tinha sido selecionado para esse projeto. E aí algumas pessoas forma pessoas no Brasil foram muito importantes: o Dante Alighieri, que é uma escola trabalha com investigação e algumas áreas desde o ensino básico e conta com um frente grande para isso, com corpo docente com mestres e doutores nesta área; o Lucas Fonseca, que trabalhou na Alemanha com o pessoal de lá, nos aproximou da Missão Garatéia, a primeira expedição lunar brasileira.



(Foto: Acervo Pessoal)



Nunca ninguém tinha conseguido mandar uma coisa para o espaço; então foi feito um projeto, fizeram a proposta, mandaram para o SSES e foi aceito! A partir disso nós tivemos que fazer a nossa parte aqui. O que fizemos foi nos organizar com outras duas instituições - o NEF, uma escola que fica em Paraisópolis e um outra instituição que fica em Cotia, o Projeto Âncora.


Essas três instituições se reuniram e desenvolveram 73 projetos de alunos, com vários professores orientando. Desses 73 projetos, 10 foram pré-selecionados, entre os 10 selecionaram mais 3, e entre esses 3 a NASA escolheu um para voo, que foi um dos projetos que eu oriento.



E além de participar desse projeto, você também ficou um tempo estudando nos Estados Unidos, certo?

O que aconteceu foi seguinte: a gente conseguiu ser selecionado no SSEP, e eu estou fazendo doutorado em educação na USP. E como eu já ia para os Estados Unidos, eu achei legal conhecer mais sobre as universidades por lá, e achei a Universidade de Columbia muito interessante. Me candidatei para ela, fiz um processo de aplicação para o doutorado, mandei vários e-mails, vários documentos traduzidos e consegui a aprovação! Eu poderia ficar lá até dois anos, mas como eu trabalho por aqui, eu preferi ficar só o mês de julho. E Columbia é uma universidade gigantesca, é uma das universidades da Yve League. Lá eu trabalhei com a minha área que é sobre os sistemas imersivos dentro da educação.



Quando foi que você descobriu que era a educação a área que você queria seguir?

Desde pequeno, vendo as condições que a gente vivia lá, a minha escola, eu queria trabalhar com educação. Eu já entrei na universidade com uma vontade transformar a realidade. Eu achava que na universidade as pessoas iam se encontrar, iam querer mudar as coisas; e eu vi, depois, que não era bem assim.


Um dos momentos que me motivou a continuar nesta área foi com um aluno do cursinho. Ele não tinha dinheiro nem para pagar a passagem do ônibus, vivia em uma situação extrema de vulnerabilidade social, e eu lembro que a gente lutou muito para que ele conseguisse ir para a escola, lembro que eu tirei dinheiro do bolso para ele ir às aulas várias vezes… E no final do ano ele veio e disse: “olha, hoje eu passei no vestibular e muito obrigado pelo apoio”. E ele me abraçou e disse que tinha sido aprovado por conta de uma provocação que eu fiz no começo do ano. Isso foi uma coisa uma forte! Foi aí que eu tive certeza que era o que eu queria.



O que a UNESP representa para você?

A UNESP é uma transformação da minha vida, com certeza, porque foi uma oportunidade, um espaço onde eu pude desenvolver os elementos fundamentais de pesquisa e de socialização. Eu tive a oportunidade de conviver com pessoas muito diferentes, que moravam e viviam de forma muito diferente, e o convívio neste espaço que é a universidade pública foi algo extremamente enriquecedor para mim como ser humano e como pesquisador.


E eu também tive o privilégio de ter contato com outros pesquisadores, de participar de disciplinas, de ter uma percepção científica muito importante para o que eu faço hoje. A UNESP foi uma grande base para mim. Eu agradeço muito por ter passado por um espaço como aquele, foi - sem dúvida - algo muito transformador.


Mas isso não quer dizer que foi fácil. Pelo contrário, existem muitos momentos onde você tem contradições, onde os espaços são desgastantes e você se incomoda, mas são nessas contradições que a gente cresce como pessoa, como pesquisador.



Quando você sobre contradições e desgastes, a que você se refere?

Acho que a tudo! Quando você sai da sua casa, mesmo que você venha de uma condição humilde, você chega na faculdade e encontra uma série de contradições - nas disciplinas, nas questões políticas dentro da universidade, os professores, grupos de pesquisa.


Uma coisa, por exemplo, que me incomoda muito é a não-neutralidade nas pesquisas. A gente sabe que ser neutro é algo praticamente impossível. Existem pesquisas que têm realmente um propósito, mas têm pesquisas que a gente sabe que uma são espécie de linha de produção - quanto mais uma pessoa produz, mas ela tem visibilidade e mais ela consegue recursos.


Outra questão é o assédio moral dos orientadores que prejudica os alunos. Eu vi vários amigos super ansiosos, tomando medicação por conta disso, porque tinham que produzir e se não produzissem não conseguiriam ser nada na vida… Então esse sistema de produtividade acadêmica é uma contradição que me incomodava muito, pois ao mesmo tempo que eu queria fazer uma pesquisa de qualidade eu tinha que lidar com uma estrutura muito desgastante. Isso dentro da universidade!


Fora da universidade são [ as contradições] sociais. Morar com pessoas que você nunca conviveu é desgastante porque você não pode viver do jeito que você sempre viveu nem fazer tudo o que a outra pessoa quer. Isso é legal porque traz um amadurecimento, até porque quando você sai de um espaço desse e vai para um outro lugar, o mercado de trabalho, você já sabe como lidar com certas situações. Eu acho que esses desgastes que fazem a gente crescer, porque você está num espaço que você tem que partilhar e isso não é uma coisa simples.


Por isso que eu acho que a universidade é um espaço fundamental. Eu falo dos desgastes, mas foram momentos, e se a gente a gente for somar tudo existiram muito mais momentos bons do que momentos de desgastes.



E o futuro?

Sabe que eu não sei? Eu quero continuar trabalhando com educação.. Isso [de falar do futuro] é um coisa que eu vivia muito na UNESP: quando eu estava no começo da graduação eu ficava fazendo planos, “eu quero estar aqui, quero ir para lá, quero estar naquela universidade”. Hoje eu faço o contrário, eu quero estar onde eu estou, fazendo a pesquisa que eu faço… E os outros espaços eu não me preocupo tanto, porque eu penso assim: se eu estou trabalhando em uma coisa que eu sou apaixonado e eu estou dando o meu máximo, eu sei que as oportunidades vão vir. Eu não sei como vai ser, mas eu sei que eu estou indo para o caminho que eu quero seguir.


A carreira universitária é uma coisa que eu acho muito interessante, eu acho que ao mesmo tempo que a educação básica é muito legal, a universidade também é um espaço que você consegue transformar as coisas. Quem sabe?


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