Série Empresas Filha da Unesp

Em 2016, foi criada a empresa Ciclo Limpo que atua com inovação, preservação ambiental e pesquisa científica. O fundador dessa organização é Julio Ruffin Pinhel, ele é formado em Biologia (2005) e mestre em Agronomia (2019) ambos pela Unesp, câmpus de Botucatu. A carreira de Júlio está totalmente ligada à universidade e a sua paixão pelo meio ambiente, desde seu primeiro estágio até a sua primeira empresa.

Hoje, Julio afirma, com orgulho, ser “empreendedor e lixólogo”. O serviço oferecido pela Ciclo Limpo é a coleta de resíduos orgânicos em casas, empresas, restaurantes, escolas ou condomínios, por meio de um plano de assinaturas. Assim, eles transformam algo que seria apenas lixo em adubo, utilizando técnicas de compostagem. A empresa também oferece um brinde mensal aos seus clientes, que pode ser uma muda de hortaliça, uma muda de tempero ou 1kg de adubo, simbolizando o fim de um ciclo no meio ambiente.

Adubo produzido pela Ciclo Limpo. Foto: arquivo pessoal de Julio Ruffin Pinhel.

Um dos tipos de brindes dados aos clientes da Ciclo Limpo. Foto: arquivo pessoal de Julio Ruffin Pinhel.

A criação da empresa ocorreu porque o biólogo percebeu que “no Brasil geramos muito resíduo orgânico e menos de 1 % das cidades brasileiras têm algum serviço de compostagem. Esse resíduo tem um tratamento relativamente fácil e de baixo custo, podemos até reciclar em nossas casas. Ao perceber essa lacuna, procurei buscar soluções para esse problema. Além disso, a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 determina que os resíduos orgânicos não devem mais ir para aterros sanitários, mas esse ainda é o principal caminho do descarte orgânico nas cidades. Por isso, me juntei com 2 amigos, os sócios André da Silva Nadal Marcos e João Paulo Garcia Silva Farias, e colocamos a Ciclo Limpo para funcionar”. 

Equipe da empresa.Foto: arquivo pessoal de Julio Ruffin Pinhel.

A Ciclo Limpo, por ter origem na universidade, já recebeu prêmios acadêmicos, como durante o 9º Fórum Internacional de Resíduos Sólidos, em o projeto recebeu menção honrosa por estar entre os 15 primeiros selecionados e, também, foi um dos 7 trabalhos escolhidos para publicação em revista científica.

“O sonho era trabalhar com meio ambiente”

Julio é da capital de São Paulo, ele conta que quem despertou seu interesse pelas Ciências foi uma professora do colégio, a Maria José. “Ela tinha uma forma diferente de ensinar e conseguia fazer com que os alunos se interessassem”, relembra. 

Seu maior interesse era a área ambiental, portanto a Biologia era como um canal que permitiria que ele trabalhasse com sua paixão. O plano deu certo, “minha passagem pela Biologia na Unesp me permitiu fazer tudo que faço hoje”. 

O biólogo comenta que seus estágios durante a graduação foram fundamentais para sua trajetória profissional. Ele brinca “enfiei o pé no lixo e nunca mais tirei, fiz um estágio em uma ONG, a SOS cuesta de Botucatu, que desenvolvia um projeto de Educação ambiental. Implantamos a coleta seletiva em um bairro em torno de um ribeirão, na região central. Esse projeto fez com que eu me apaixonasse pelo tema e descobrisse o universo dos resíduos orgânicos”. 

Um estágio acabou encaminhando outro, pois o trabalho com a ONG teve visibilidade na cidade. Em 2003, a Secretaria de Meio Ambiente de Botucatu abriu um processo seletivo de estágio. Essa vaga era destinada para atuar junto com uma equipe, responsável por começar a implantar coleta seletiva no município e organizar uma cooperativa de catadores.

Julio conseguiu a vaga de estágio na secretaria, paralelamente, o estudante estava desenvolvendo seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). “Meu TCC foi a implementação da coleta seletiva na Unesp de Botucatu, até hoje ainda há pontos de resíduo reciclável no câmpus, que são frutos desse trabalho”. Seu orientador foi o Prof. Dr. Alcides Lopes Leão do Departamento de Bioprocessos e Biotecnologia e responsável pelo Laboratório de Resíduos Sólidos e Compósitos (Residuall).

O Prof. Dr. Alcides foi um grande incentivador da Ciclo Limpo e também orientou Julio em seu projeto de mestrado em 2017. A pesquisa desenvolvida para a dissertação era especializada na área de Compostagem e analisava a viabilidade de criação da empresa, como um modelo de gerenciamento descentralizado de resíduos orgânicos. 

O biólogo é muito grato ao seu orientador, pois “ele abriu todas as portas da universidade e da sua estrutura para a viabilização do nosso empreendimento”. Assim, iniciou-se a parceria entre a Unesp e a empresa, porque Julio passou a utilizar uma área em desuso dentro do câmpus, pertencente ao laboratório de Resíduos Sólidos e Compósitos. “Essa parceria gera pesquisas científicas, artigos, prêmios, visibilidade para Unesp e projetos de educação ambiental, por meio de visitas de escolas”, explica o biólogo.

Área de compostagem na Unesp, câmpus Botucatu.Foto: arquivo pessoal de Julio Ruffin Pinhel.

Sobre seus sonhos para o futuro, Julio deseja ampliar a adesão da população à coleta seletiva dos resíduos orgânicos, atingir 1.000 pontos de coleta em Botucatu e gerar emprego e renda para mais pessoas. Além disso, gostaria de ser referência na gestão de resíduos orgânicos e expandir o modelo de negócio para outras cidades.