
Suzi Dornelas é formada em Educação Física na UNESP de Presidente Prudente e fez mestrado profissional em Educação Física em Rede Nacional (ProEF) na UNESP de Bauru. Nesta segunda-feira (20), se tornou uma das vencedoras do prêmio Educador Nota 10. O projeto desenvolvido por ela chama “Viajando pela cultura africana” e foi um dos 10 premiados entre 4 mil inscritos.
O prêmio existe desde 1998, foi criado pela Fundação Victor Civita, em 2014 iniciou uma parceria com a Abril, a Globo e a Fundação Roberto Marinho. A premiação seleciona projetos nacionais que contribuam para o aprendizado de alunos desde a educação infantil ao ensino médio. Os 10 primeiros colocados ainda estão concorrendo ao título de Educador do Ano e de Projeto Inovador.
Suzi é professora da rede estadual há 7 anos e percebeu que havia pouca representatividade da cultura africana na escola. A partir desse problema, ela desenvolveu sua dissertação de mestrado buscando ensinar sobre esse tema, que resultou no projeto “Viajando pela cultura africana”, realizado com os estudantes do 5º ano da Escola Estadual Professor José Ranieri de Bauru.
A professora concluiu sua pós-graduação em março deste ano e afirma que foi uma experiência fundamental: “o mestrado contribuiu imensamente para minha reflexão sobre a atuação pedagógica. Minha formação acadêmica na Unesp, tanto graduação quanto pós-graduação, foram primordiais para eu conseguir ser a profissional que me tornei hoje”.
Contribuição Social
No Brasil, em 2003, foi criada a Lei 10.639 que determina o ensino sobre a cultura e história afro-brasileira. Na maioria das escolas essa lei não é cumprida, não existe fiscalização ou incentivo para que isso aconteça. No Brasil, majoritariamente, temos um ensino eurocêntrico, muito é ensinado sobre a história da Europa, enquanto informações sobre a África não são transmitidas em sala de aula.
Andresa Ugaya foi orientadora do projeto vencedor, ela é professora do departamento de Educação Física da UNESP e coordenadora do NUPE (Núcleo Negro para Pesquisa e Extensão Universitária da Unesp) de Bauru.
Para a orientadora, o projeto de Suzi contribui para sociedade de diversas formas, faz com que as crianças se sintam pertencentes a escola e tenham suas ideias e sugestões ouvidas e respeitadas.
Andresa ressalta a importância de “as crianças negras se verem reconhecidas e pertencentes à cultura africana de uma forma positiva. As crianças brancas também tiveram acesso a uma educação antirracista. Todas as crianças aprenderam sobre a África em uma perspectiva cultural, artística, de desenvolvimento e não como algo pobre e doente, como é divulgado pelas mídias, que só mostram esse lado”.
Outra contribuição mencionada pela docente, foi a participação da família das crianças. Tudo isso foi feito através de um festival, com comida, brincadeiras e apresentações feitas pelos alunos. Com diálogo, as famílias tiveram acesso a esse conhecimento intercultural e participaram mais do processo pedagógico.

Festival “Viajando pela cultura africana”, as famílias dos alunos foram convidadas para participar
Suzi afirma que a parceria com a orientadora foi fundamental para o projeto. Ela escolheu a orientação de Andresa devido as suas pesquisas em cultura africana e educação antirracista, a partir das danças e cultura popular.
Andresa conta que orientar este projeto ganhador, mostra que ela está no caminho certo. Ela leciona na UNESP de forma conscientizadora, seja nas orientações ou na sala de aula, se dedica e traz conhecimentos para fomentar a luta antirrracista. “É uma luta diária, a população negra sofre com o racismo estrutural e institucional e meu papel dentro da UNESP é trazer esse enfrentamento para dentro da instituição”.

Suzi Dornelas (esquerda) e sua orientadora e Andresa Ugaya (direita) durante a apresentação da dissertação.
Impacto positivo na escola
Suzi conta que o projeto teve um forte impacto na comunidade escolar, as crianças estavam muito motivadas e empolgadas. Os conteúdos foram ensinados através de brincadeiras e jogos de matriz africana, assim os estudantes aprenderam brincando.
“Proporcionou diálogos significativos dentro desse ambiente escolar, os familiares vieram para escola brincar junto conosco e aprender um pouco dessa cultura tão relevante. A gestão escolar, os funcionários e demais professoras da escola também se envolveram nesse processo pedagógico”, conta Suzi. Assim, o projeto teve um impacto geral na comunidade escolar, disseminando conhecimento entre todos os participantes.
Todo o esforço, acabou valendo a pena, a professora declara que a emoção de estar entre os 50 finalistas já havia sido enorme, agora que está entre os 10 premiados sente muita gratidão pelo reconhecimento. Ela diz se sentir motivada a continuar buscando uma educação pública de qualidade, transformadora e democrática.
Foi feito um projeto audiovisual sobre o “Viajando pela cultura Africana”, o vídeo mostra a participação de pais e filhos que aprenderam juntos durante o festival. Confira: https://www.youtube.com/watch?time_continue=944&v=XmnECn0jtMc&feature=emb_logo