
Foto: Ricardo Belmonte-Lopes.
Bicudinho-do-brejo é o nome de um passarinho ameaçado de extinção, ele foi descoberto em 1995 pelo atual professor da Unesp, o prof. dr. Marcos Bornschein, e pela profa. dra. Bianca Reinert (in memorian). Atualmente, Marcos coordena um projeto de extensão dedicado ao estudo e preservação desse pássaro. O pesquisador e sua mestranda, Larissa Teixeira, fizeram parte do episódio 21 da websérie “Histórias da Grande Reserva Mata Atlântica”, onde explicaram os esforços que são feitos para preservar a espécie.
O projeto de pesquisa “Bicudinho-do-brejo” é ligado ao Instituto de Biociências, no câmpus da Unesp do Litoral Paulista, e atua com estudantes de graduação e pós. O objeto de estudo, o Bicudinho, possui uma população estimada em cerca de 6.745 indivíduos, ele pesa entre 9 e 10 gramas e pode viver 16 anos, o que é muito para uma ave com essas características.
Esse pássaro vive em um ambiente muito específico, nos capins dos rios do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Além disso, a espécie possui baixa variabilidade genética e a maré, quando está alta, destrói seus ninhos. Estima-se que dentro de 30 e 50 anos o Bicudinho possa ser extinto, mas com ajuda dos biólogos esse cenário pode melhorar.
Marcos Bornschein explica que o desmatamento também é um agravante, é preciso “manter os ambientes preservados, o ambiente está padecendo, está perdendo saúde e o Bicudinho perde lugar”.

O habitat da espécie. Foto Reserva Bicudinho-do-brejo.

Foto: Reserva Bicudinho-do-brejo.
Sorte desse passarinho que os biólogos não medem esforços para tentar garantir sua sobrevivência. No documentário é possível ver a atuação “meio James Bond”, como brinca Larissa Teixeira. Os biólogos trocam os ovos entre os distritos de Morretes e Guaratuba, fazendo todo o trajeto de barco e segurando os ovos com todo o cuidado em um isopor dentro de uma caixa térmica, pois eles não podem sofrer impactos.
Essa troca é feita para aumentar a diversidade genética, evitando que os Bicudinhos acasalem entre irmãos e primos, o que gera uma bagagem genética “fraca” e coloca em risco a sobrevivência da espécie.
Todo o percurso de barco é feito com rapidez, pois os “bebês” não podem perder temperatura. Após a viagem, os ovos são colocados nos ninhos, para que as mães, que haviam sido enganadas com ovos falsos, possam cuidar de seus novos “filhos adotivos”, com genes mais diversos.

Os ovos do Bicudinho-do-brejo. Foto: Marcos R. Bornschein
Além da atuação mostrada no documentário, o pesquisador unespiano explica que o grupo de pesquisa faz “o monitoramento do bicudinho-do-brejo e efetua o manejo de braquiárias africanas”.
Descobrimento da espécie e criação de área de preservação
O prof. dr. Marcos conta que o Bicudinho foi descoberto por acaso, quando um grupo de ornitólogos estava observando outra espécie. Marcos andava com Bianca próximo ao rio quando avistou uma nova espécie e informou a colega, depois eles viram novamente o pássaro (Formicivora acutirostris) em uma rede colocada pelos biólogos.
Naquela época, ambos haviam completado a graduação, posteriormente, Bianca fez doutorado em Zoologia na Unesp, enquanto Marcos completou toda sua formação na UFPR e, depois, tornou-se docente na Unesp. Depois da descoberta, os dois cientistas passaram a atuar para aumentar a preservação da espécie.
Posteriormente, o grupo pesquisadores envolvidos com o projeto de preservação da espécie se juntaram e compraram, com recurso próprio, uma propriedade na região e a nomearam como “Reserva Bicudinho-do-brejo''. Essa compra aconteceu porque Bianca conversou com um morador local e lhe pediu, que se um dia ele quisesse vender suas terras, que pudesse procurar os pesquisadores antes da venda. Após 10 anos do primeiro contato, o morador telefonou para os pesquisadores e perguntou “aquela proposta ainda está de pé?”. Estava, e assim, a reserva foi criada.
Infelizmente, a profa. dra. Bianca Reinert veio a falecer em 2018, em sua carreira ela contribuiu imensamente para a preservação e ciência brasileiras. Seu sonho de preservar essa espécie ameaçada, o Bicudinho, continua se desenvolvendo com base em tudo que ela ajudou a construir.
Para mais informações, siga o projeto de pesquisa Bicudinho-do-brejo nas redes sociais, Facebook e Instagram, para acompanhar a atuação dos biólogos.
A ONG Mater Natura também realiza pesquisas importantes de preservação dessa espécie. Já, a Fundação Grupo Boticário atua como patrocinadora do projeto do revigoramento populacional, que o projeto de pesquisa da Unesp participa.