Conheça a história da doutoranda que descobriu seu talento para área acadêmica durante um estágio | Alumni Unesp
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Publicado em:
30/09/2022
30/09/2022
Tempo de leitura: 8 min

Conheça a história da doutoranda que descobriu seu talento para área acadêmica durante um estágio
Hoje, ela cursa o doutorado na Unesp e estuda a relação entre a Publicidade e o racismo



Quando ainda estava na graduação em Publicidade de Propaganda, Carina Cristina do Nascimento se tornou estagiária em uma editora de livros acadêmicos. Ela tinha apenas 17 anos e ainda não sabia o quão importante esse estágio seria para o seu futuro, pois o contato com livros, dissertações e teses despertou a curiosidade da estudante a respeito do universo acadêmico. Além disso, seu editor-chefe, Luiz Eugênio Véscio (in memorian), que também era acadêmico, reconheceu a vocação da jovem na área de pesquisa e docência. Assim, ele passou a incentivá-la a seguir essa carreira. Hoje, ela é doutoranda na Unesp e estuda o papel da Publicidade na perpetuação de lógicas racistas.


Carina conta: “Ele [Luiz Eugênio] sempre dizia que se a gente quisesse ter mobilidade social, seria por meio da Educação”. A publicitária se formou em 2003, pelo Centro Universitário (Unisagrado) e durante todo o período do curso estagiou na editora Edusc (Editora da Universidade Sagrado Coração).“Era uma editora que estava no ciclo das mais prestigiadas, com publicações teses e dissertações de autores nacionais e internacionais. Durante o estágio, cuidei da tese de doutorado de Luiz Eugênio, fiz toda a parte da diagramação e ele me convidou para assistir a defesa dele e eu achei incrível esta ideia de você estar ali na universidade, defendendo um pensamento e ter pessoas te ouvindo. Achei bastante interessante e fui buscar mais sobre isso”.


Com o tempo, o interesse em pesquisa foi crescendo cada vez mais e em 2005 foi aprovada no mestrado em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP. “Minha pesquisa estava completamente alinhada com o universo editorial que havia conhecido no estágio, estudei sobre editoras universitárias e as formas de comunicação mercadológica dessas novas editoras”.


Doutorado na Unesp: incentivos e novidades acadêmicas


Em 2007, Carina foi contratada por uma faculdade particular e passou a lecionar Publicidade e Propaganda e Administração. Devido ao início de seu trabalho como docente, a publicitária acabou passando um tempo sem tirar do papel seu plano de cursar um doutorado. "Com o tempo, o desejo de entrar em um doutorado foi crescendo cada vez mais", declara a pesquisadora.


Assim, ela decidiu participar do processo seletivo de doutorado em Mídia e Tecnologia na Unesp (PPGMIT), no câmpus de Bauru em 2020. Ela conta que é muito grata ao incentivo de duas docentes, a Profa. Dra. Regina Belluzzo e a Profa. Dra. Maria Eugênia Porém, que estimularam Carina a seguir em frente. 


Assim, foi aprovada e começou sua pesquisa na Unesp, junto com sua orientadora Profa. Dra. Vânia Cristina Valente. “E aí começou minha grande aventura: minha jornada acadêmica na Unesp”, conta.


A doutoranda afirma que se sente muito acolhida na Unesp e isso foi muito importante para que ela desenvolvesse sua pesquisa como gostaria. Além disso, entrou em contato com o grupo de estudos “Neocriativa”, que mudou os rumos de sua pesquisa. 


O contato com teorias antirracistas


A unespiana foi apresentada ao grupo por meio de uma colega de turma, Débora Lopes, que a convidou a conhecer mais sobre as pesquisas interseccionais desenvolvidas pelo Neo. Assim, novamente, um grande interesse foi despertado em Carina, o coordenador do grupo, Prof. Dr.Juarez Xavier, a apresentou autores que ela ainda não conhecia e que a cativaram.


“O Juarez, que agora é meu coorientador na pesquisa, me passou referenciais bibliográficos de autores pouco citados na academia, mas que têm contribuições extraordinárias e, em sua maioria, são autores pretos. Para mim está sendo muito interessante ler esses livros, por mais progressiva que tenha sido minha graduação em Comunicação, ainda não tinha acesso a esses autores. Então, está sendo um grande privilégio conhecê-los, como Lélia Gonzalez, Achille Mbembe, Sueli Carneiro, Grada Kilomba, Cornel West, Milton Santos, Bell Hooks, entre outros”. 


Todo esse contato, fez com que ela unisse seus conhecimentos em Publicidade com as teorias estudadas pelo Neocriativa. “Acho que a publicidade tem uma responsabilidade muito grande de retroalimentar o racismo e eu quis entender mais sobre essa dinâmica de mercado que, claro, que existem fatos históricos por trás”. 


A pesquisadora passou a estudar sobre “imagens de controle”, um conceito da autora Patrícia Hills Collins. Carina explica: “Imagem de controle é aquela que vai manter pessoas negras nos lugares onde a sociedade está acostumada a nos enxergar: aquela mulher que tem a característica de servilidade ou a mulher negra do carnaval hipersexualizada ou o homem negro com característica de bandido. O racismo congela pessoas negras nesses lugares, isso está presente nas estratégias de Comunicação, como no Jornalismo, nas novelas, nas propagandas e filmes”. 


Para Carina, o contato com essas teorias teve um impacto positivo em sua vida pessoal, ela descreve como “um processo de cura e transformação”, porque afirma que estudar de forma concreta o racismo presente na sociedade fez com que ela buscasse forças e passasse, com base em dados históricos, a entender alguns porquês sociais..


“Quando vivemos em uma estrutura racista nos sentimos prejudicados fisicamente e mentalmente, é como se estivermos adoecendo junto com essa estrutura e é preciso romper com essa lógica. Enquanto tivermos um sistema como esse, não teremos condições de avançar democraticamente no país, o racismo não é problema só das pessoas negras, é da sociedade brasileira, porque é uma construção social”, afirma a unespiana.


Outra pesquisa que ela desenvolveu em paralelo com seu doutorado e em conjunto com a sua colega Débora, foi o levantamento de dados para verificar a quantidade de docentes negros que lecionavam na universidade. As pesquisadoras concluíram que havia apenas 1% de professores negros no Programa de Pós Graduação. “Quando pensamos que somos 56% da população brasileira, percebemos que essa situação é muito triste e entendemos que ações afirmativas são muito importantes nesse sentido”. 


Carina ainda ressalta o “projeto de embranquecimento” do Brasil, que foi quando o governo estimulou e subsidiou a vinda de europeus ao país após a abolição. Assim esses povos tiveram privilégios financeiros e sociais. Quando percebe-se que o país passou por 3 séculos de escravidão, também destaca-se a necessidade de ações afirmativas, buscando uma abrangência maior de oportunidades e direitos para pessoas negras.


Assim, a publicitária e pesquisadora vem trilhando seu caminho na docência, muitas mudanças ocorreram, agora, Carina vem rompendo com paradigmas e questionando estruturas sociais, mas ela mantém características desde seus 17 anos: a sua curiosidade e a sua dedicação aos livros. 






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