
Diego Siqueira é pesquisador na área de Geofísica aplicada às Ciências Agrárias e Ambientais. Ele é engenheiro agrônomo, mestre, doutor e pós-doutor pela Unesp, câmpus de Jaboticabal e, também, é diretor executivo da Quanticum. O seu principal objeto de estudo são os solos, ou seja, a base para a vida na Terra. Ele problematiza que os solos são responsáveis por ¼ da vida terrestre, entretanto quando falamos de preservação nunca abordamos os solos e eles têm um importante papel para a sustentabilidade.
Ele conta que o manejo adequado do solo é capaz de reduzir a emissão de carbono na atmosfera e economizar quantidades significativas de adubos, água e outros recursos para os agricultores.
A Quanticum, startup fundada por Diego e mais dois sócios também egressos da Unesp, é capaz de afirmar com precisão a forma correta de tratar um solo para o plantio, sempre buscando técnicas sustentáveis.
A empresa faz o diagnóstico e mapeamento do solo. Pode parecer complexo, mas Diego explica que esse diagnóstico é como o procedimento feito pelos médicos para entender mais sobre o organismo de cada paciente e saber o que a pessoa está precisando. Dessa forma, os cientistas propõem o tratamento mais adequado para o plantio desejado. Essas tecnologias utilizadas são frutos de pesquisas na Unesp que vêm sendo estudadas há décadas pelo Grupo de Pesquisa CSME (Caracterização do Solo para Fins de Manejo Específico), cujos sócios participaram.
Divulgação científica: “os cientistas precisam estar junto dos produtores rurais”
Para Diego, grande parte da sociedade, empresas e do governo têm um nível de entendimento muito básico sobre a necessidade de tomar medidas mais sustentáveis, sobre a importância da preservação dos solos e suas funções ambientais.
“Quando falamos de proteger biomas como o Cerrado e a Mata Atlântica, não estamos falando somente de plantas e animais, mas também do solo. Sem ele não existiriam a fauna, a flora e os microorganismos. O solo merece o mesmo nível de proteção, engajamento, conscientização e empatia do que as florestas, animais, água e o ar”, ressalta.
Ele explica que aumentar a conscientização sobre esse tema requer uma comunicação humana e didática por parte dos cientistas. Pois, quanto mais complexo é um tema, mais requer uma linguagem simples e diversificada.
O cientista também ressalta que há inúmeros conhecimentos na área de sustentabilidade e cultivo para solos tropicais que precisam de atualizações. Entretanto, a maior parte das divulgações sobre o tema são publicadas em forma de artigos científicos, que são escritos, em maioria, em língua inglesa e com uma linguagem técnica, feita apenas para o entendimento de pessoas que já são da área.
“O caminho é a educação e a conscientização da sociedade. Trazer o cientista para fora da universidade, pois ele deve estar junto com os produtores rurais e deixar, também, que essas pessoas falem, ensinem, questionem e aprendam. Esse é um processo de troca e inclusão que as novas gerações precisam intensificar”.
Além dos produtores rurais, a divulgação científica também deve alcançar os gestores das empresas de agronegócio, que precisam compreender que a palavra “sustentabilidade” pode ser uma aliada dos negócios. Preservar a natureza não pressupõe perder verba, na verdade, pode economizar.
Agricultura regenerativa e 4ª revolução agrícola
O egresso explica: “A 1ª revolução agrícola ocorreu quando as pessoas aprenderam a cultivar as plantas e, assim, deixamos de ser nômades. Em seguida, aprendemos a usar ferramentas, como a enxada, e entramos para o que chamamos de 2ª revolução agrícola. Enquanto na 3ª revolução começamos a utilizar as ciências e as tecnologias, como os tratores, os pesticidas e os adubos químicos”
Diego completa: “Já a 4ª revolução agrícola, segundo o ganhador do Nobel de Física de 2022, Dr. Steven Chu, deverá corrigir os desequilíbrios ambientais gerados pelas fases anteriores, causando menos impacto global e utilizando a Agricultura Regenerativa”.
A Agricultura Regenerativa consiste em um conjunto de métodos que são capazes de recuperar ecossistemas. Dessa forma, é possível regenerar os solos degradados e, ao mesmo tempo, plantar.
O egresso conta que a Agricultura Orgânica, responsável pelos vegetais sem agrotóxicos que consumimos nos mercados, tem o seu impacto positivo, mas é possível ir além. Pois, com a Agricultura Regenerativa é possível diminuir as emissões de carbono causadas pelos empreendimentos agrícolas.
Ele também defende um novo reequilíbrio entre o uso de bioinsumos e dos pesticidas químicos. Os bioinsumos consistem em usar material biológico, como fungos ou bactérias, para obter produtos que tenham serventia para sociedade. Assim, evita-se o uso de produtos químicos.
O cientista reitera: “É claro que temos desafios e problemas na Agricultura brasileira, como em outros setores e outros países também. Porém, essas práticas não representam o posicionamento correto do setor. O diálogo e a comunicação humana podem ajudar, pois muitas vezes os produtores não compreendem as instruções do engenheiro agrônomo ou não veem sentido em segui-las, por isso precisam ser explicadas de forma didática”.
Entretanto, o pesquisador ressalta que existem plantios responsáveis no nosso país e que já utilizam a Agricultura Regenerativa de forma pioneira, usando a Ciência em prol da sustentabilidade.
Diego conclui que uma população bem informada se torna uma população mais vigilante, consciente e protagonista das práticas. Assim, a divulgação científica é necessária para que nosso país alcance um desenvolvimento sustentável amplo. Na Quanticum, o egresso e seus sócios utilizam vídeos, ebooks e vão às regiões de produtores rurais para explicar e debater sobre a sustentabilidade e a Agricultura Regenerativa.
A empresa também realizou um movimento chamado Aliança para Sustentabilidade entre 2021 e 2022. Essa Aliança conectou várias empresas com o selo “DNA Unesp” na área do Agronegócio, mostrando os impactos positivos da Ciência gerada na universidade quando aplicada na vida das pessoas. Parte das tecnologias discutidas foram apresentadas na COP 26 (Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) na Inglaterra em 2021 e na COP 27 no Egito em 2022. O material está disponível virtualmente de forma gratuita.
O engenheiro conta que sua passagem na Unesp foi fundamental para a sua formação, para criação da Quanticum e para a sua carreira acadêmica. Ele afirma também que todos os egressos, que atualmente trabalham com ele, têm muito orgulho por possuírem o DNA da Unesp e que eles esperam perpetuar esse DNA por onde passarem.
Saiba mais sobre as empresas-filhas da Unesp por meio do e-book de empreendedorismo da AUIN.