“Contratar refugiados foi uma das experiências mais gratificantes que já tive”, conta egresso | Alumni Unesp
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Publicado em:
30/09/2021
30/09/2021
Tempo de leitura: 6 min

“Contratar refugiados foi uma das experiências mais gratificantes que já tive”, conta egresso
O egresso da Unesp é sócio do restaurante oriental “JUI”, em São Paulo


Junior Tan é originalmente da Malásia, mas aos 4 anos sua família mudou para São Paulo. A trajetória de vida do egresso é bastante diversa, ele é graduado em Biologia com habilitação em Biologia Marinha e Gerenciamento Costeiro (2011) no campus da Unesp em São Vicente, onde posteriormente também fez seu mestrado em Biodiversidade de Ambientes Costeiros. Desde 2013, ele é sócio do JUI, um restaurante sustentável de gastronomia oriental. Junior conta que sua passagem pela universidade, além da paixão por Biologia, lhe ensinou a pensar de uma forma mais inclusiva socialmente. Essa visão foi levada para o seu empreendimento e para a contratação de dois refugiados, Felli e Yannick, vindos do Congo. 

 

O contato com Felli e Yannick foi feito através da ONG “Estou Refugiado", que tem como foco inserir refugiados no mercado de trabalho. A organização cria e distribui currículos, fornece passagens de transporte público para que eles possam chegar nas entrevistas de emprego e realiza ações que buscam conscientizar os brasileiros sobre a condição de refugiados e as dificuldades que eles enfrentam. 

 

Junior ficou sabendo da ONG em 2017, através de uma conhecida. Ele conta que a equipe de seu restaurante foi muito receptiva e ensinou português aos seus novos colegas congoneses, lhes ajudou com documentos, criação de contas de banco e também lhes apresentou São Paulo, por meio de passeios. A organização considerou a contração deles como um “caso de sucesso” e publicou um vídeo, contando essa história, em seu canal no Youtube.

 

O egresso, ao criar o restaurante em parceria com seu irmão, conta que desenvolvimento social e sustentabilidade sempre foram valores que ele gostaria de colocar em prática. Ele pretende contratar novamente refugiados, mas com a pandemia esse plano teve que ser um pouco adiado.

 

O JUI é um restaurante autoral, moderno e especializado em culinária oriental. Segundo Junior, quando a oportunidade de abrir o próprio negócio surgiu, ele “não pensou duas vezes”, aceitando o desafio. Os pratos são criados pela própria equipe, o chef e irmão de Junior, Tan Tjui-Tseng, já trabalhou em restaurantes conceituados por todo o mundo. 

 

O restaurante JUI na chácara São Manoel em São Paulo. Foto: divulgação.


Apesar de trabalhar com culinária por anos, Júnior não conseguiu se afastar de sua grande paixão: a Biologia. Hoje, está planejando seguir carreira acadêmica no mundo das Ciências. O biólogo conversou com a equipe do Alumni e nos contou mais detalhes sobre sua história:

 

Nos conte um pouco sobre você, de onde é e por que decidiu cursar Ciências Biológicas na Unesp de São Vicente?

Sou um biólogo nascido na Malásia, criado no Brasil, dono de restaurante e aspirante a cientista. Biologia e ciência são as grandes paixões da minha vida. Mesmo tendo trabalhado no setor de alimentação há oito anos, a ciência (especificamente, a Biologia) sempre me chamou de volta. Acho que quando você trabalha e passa por boas aventuras em lugares maravilhosos, não tem como esquecer. No início, a escolha de prestar bacharelado em Ciências Biológicas foi muito natural. Sempre quis trabalhar com animais, quando entrei no curso percebi que era muito mais do que isso. Acabei me apaixonando ainda mais pela área. São Vicente foi uma escolha muito boa, por estar perto de São Paulo, onde moro até hoje e, também, era o único curso focado em Biologia Marinha entre as universidades públicas de São Paulo naquela época. 

 

Como foi essa passagem da graduação para o mundo da culinária, com a a criação do JUI?

O interessante é que trabalhar diretamente com gastronomia nunca esteve em meus objetivos. Para você ter uma idéia, eu como muito pouco hehe. Depois de ter passado pela habilitação em Gerenciamento Costeiro, comecei a me interessar muito por gestão para a sustentabilidade. Algo que era forte no programa. Acabei entrando em consultorias no setor privado e participando de eventos como a Rio+20. Foram tempos muito interessantes na minha vida, mas eu era muito jovem e tinha uma visão muito idealista e simplista de como as coisas funcionavam. Queria fazer o possível para incentivar um desenvolvimento social e econômico inclusivo, que levaria em conta as limitações do ambiente. Tive a oportunidade de abrir o meu próprio negócio no meio de 2013 e não pensei duas vezes. Entrei com a idéia de implementar, com a mão na massa, tudo que eu tinha que aprendido trabalhando com sustentabilidade, mas nada foi tão fácil quanto eu achava.  

 

Como vocês começaram a contratar refugiados?

Desde a sua criação, o Jui sempre se preocupou em dar oportunidades para pessoas que, em outros casos, não teriam condições de expressar os seus talentos. Sempre focamos em formar pessoas boas e responsáveis na nossa equipe, de maneira que eles possam levar a experiência que tiveram conosco como um passo para construírem suas vidas. Quando fiquei sabendo de uma outra conhecida, que era dona de restaurante, que uma ONG havia sido criada para auxiliar refugiados a se inserirem no mercado de trabalho aqui no Brasil, fiquei interessado na hora. Entrei em contato com o pessoal do “Estou Refugiado” e logo falei que tínhamos duas vagas abertas para trabalhar em nosso restaurante.  

 

Acredita que essa contratação auxiliou eles a se estabelecerem melhor no país?

Sem dúvida. Nossa equipe foi extremamente receptiva com os dois que vieram trabalhar conosco, e acho que isso ajudou bastante. Eles não falavam português no início, e tivemos que nos comunicar através do tradutor no celular durante muito tempo. Os próprios colaboradores se organizaram para ensiná-los português, conhecendo a família de cada um, levando para passeios nos dias livres e resolver burocracias simples como abertura de contas em bancos e organização de documentos. Tivemos sorte de ter essa equipe tão receptiva nesse momento. Assim, eles não só foram inseridos no mercado de trabalho oficialmente, com carteira assinada, mas também tiveram acesso à uma inserção dentro da comunidade brasileira, assimilando a cultura e fortalecendo relações. 

 

O que você achou dessa experiência?

Essa foi uma das experiências mais gratificantes que já tive. Me coloco no lugar deles, chegando em um país completamente desconhecido, sem falar a língua e conhecer ninguém. Para ter uma idéia, um desses colaboradores tinha uma filha de 13 anos que não conseguiu escapar junto com eles e ainda estava presa em outro país. Sei que não podemos resolver tudo, mas pudemos ativamente contribuir com o estabelecimento de duas famílias que passaram por muita coisa difícil em seus países nativos. 

 

Pretende voltar a contratar refugiados?

Sim. Como a pandemia afetou o setor de alimentos fora do lar de maneira muito forte, e para nõs não foi diferente, não temos previsão para retornar o projeto. Porém, os ideais que seguimos dentro do Jui estão bastante alinhados com a contratação de refugiados. Com certeza, prosseguiremos novamente com esse projeto.

 

A Unesp contribuiu para sua formação pessoal?

Devo muito do que sou à UNESP. O campus em São Vicente é bem pequeno, o que me possibilitou a ter uma nova família com pessoas extremamente capacitadas e preocupadas com a sua formação. Dentro dessa formação, aprendi muito a pensar além de mim, algo que levei pra vida. Levo da UNESP experiências em órgãos estudantis, discussões intelectuais, formação acadêmica e muito contato com pessoas que já estavam no mercado de trabalho que me auxiliaram a trilhar o caminho que trilhei. 







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