Felipe Senna compõe de forma inovadora e traz sotaques brasileiros à música orquestral | Alumni Unesp
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Publicado em:
29/06/2021
29/06/2021
Tempo de leitura: 7 min

Felipe Senna compõe de forma inovadora e traz sotaques brasileiros à música orquestral
O artista vem construindo uma carreira de renome internacional e exportando tons do Brasil para o mundo



O artista Felipe Senna é graduado em Composição e Regência pelo Instituto de Artes (IA) da Unesp, mas a sua trajetória com a música começou bem antes. Antes dos 5 anos, o músico percebeu que o piano de sua avó “era a coisa mais interessante do mundo”. O interesse perdurou por toda sua vida, hoje, Felipe atua como orquestrador, compositor e tem sua própria orquestra de câmara, o Câmaranóva, onde é diretor e pianista. O egresso já conquistou prêmios internacionais e nacionais. Uma de suas principais inspirações é a música brasileira e ele consegue trazer esses “sotaques musicais brasileiros” por onde passa. 


O músico cresceu em Atibaia (SP), aos 6 anos passou a ter aulas com professoras. Nessa época, um vizinho que era músico profissional da Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, notou o talento precoce de Felipe e recomendou aos seus pais que o garoto fosse para a capital, pois ficaria estagnado no interior. Dessa forma, com apoio da família, aos 12 o estudante foi para a Universidade Livre de Música do Estado de SP, atual EMESP. Felipe destaca nessa experiência o apoio e a confiança da educadora Márcia Visconti, "uma figura muito importante na minha formação e vida”. O artista também ressalta que todos os professores que teve, seja nas universidades ou escolas (EMESP, Unesp e City University of London), contribuíram para que ele se tornasse o músico que é hoje.


Sobre os professores da Unesp, no período que ele estava por lá (1997-2002), Felipe comenta que não havia um curso de igual qualidade no Brasil. "Tínhamos figuras extremamente representativas em todas as cadeiras, algumas com 3, 4, 5 artistas de respeitadas carreiras internacionais. Foi por isso que fui pra lá. Aliás, foi o único vestibular que prestei. O contato com aqueles músicos, na sala de aula ou nos corredores abriu caminhos na minha cabeça que eu não sabia que existiam. Entendi definitivamente o que não me interessava e tive a chance de me aprofundar naquilo que realmente me atraía. Entrei por causa da Regência, mas acabei focando meu curso na Composição. Na Unesp, percebi que era muito mais criador do que diretor. Hoje, sigo trabalhando nas duas áreas, mas nos períodos que só fiz direção e não tinha espaço pra compor fiquei sempre muito infeliz”.


Ele conta que a formação no universo da Música é diferente das demais profissões. A maior parte dos estudantes ao prestarem vestibular nessa área, além de precisarem ter boas notas do vestibular, também estão concorrendo com pessoas que estudam desde os 3,5,8 anos de idade, por exemplo. “O que nos é cobrado para o ingresso é resultado de milhões de horas de estudo prático e teórico, desenvolvido ao longo de tantos anos”.


Outra característica dessa área é que a vida profissional, muitas vezes, não exige diplomas. Uma parte importante para carreira é a atuação no palco e as experiências de tocar e compor para outros músicos. “O caminho profissional depende tanto de oportunidades e de contatos quanto de competência e talento. É claro que isso existe em qualquer área, mas acho que nas artes, de modo geral, isso é mais forte”. 


Contato com a Unesp e experiências durante o mestrado na Europa


Durante a graduação na Unesp, Felipe direcionou seu aprendizado ao que realmente acreditava e se interessava. Por isso, ressalta a importância da Iniciação Científica com bolsa FAPESP em sua formação, onde pesquisou sobre Harmonia. Ele afirma que foi “tremendamente bem orientado pela diretora do IA, a Prof Dra Marisa Fonterrada”, que lhe ensinou a pesquisar e a escrever, de maneira efetiva. 


O músico relembra os docentes que mais o marcaram durante a sua graduação no IA: “Achille Picchi (pianista/compositor), Abel Rocha (regente), Maria de Lourdes Sekeff (a alma do IA!), Paulo Castanha (historiador), Flo Menezes (compositor), Villani-Côrtes (compositor), John Boudler (percussionista), André Rangel (pianista), professor Kazas (orquestrador)... foram todos mestres com quem aprendi muito direta ou indiretamente, nos corredores”.


Entretanto, o músico faz algumas críticas construtivas ao curso. Para ele, a parte prática e a realidade do fazer musical poderiam ser mais ressaltadas durante a formação do estudante. Felipe também afirma que deveria haver um maior destaque à música brasileira e valorização dela: “um erro que nos dias atuais ainda não foi retificado e que ajuda a aumentar e perpetuar o distanciamento entre nossa arte e o público geral”. 


Posteriormente, foi buscar outras experiências e aprendizados na Europa, assim, se mudou para Alemanha. Pois estava buscando novas experiências e, também, estava a procura de mais um contato com o ambiente acadêmico, ao constatar que na Alemanha e na França os cursos eram muito filosóficos e pouco práticos, ele acabou encontrou o que procurava na Inglaterra. 


“Acabei encontrando um programa de MA (Master of Arts) em duas escolas interessantes em Londres. Fiz as provas, passei nas duas com oferta de bolsa das próprias instituições, e acabei escolhendo a City University of London, porque era o orientador que achei que seria interessante pra mim”.


Enquanto mestrando, o músico se especializou em música e imagem, pois cultiva um interesse por esse “inter-campo” entre a música e as demais formas de arte. Foi um período de muita dedicação e Felipe, também, destaca que um aspecto positivo era o respeito e valorização por vários tipos de música que eram trabalhados por lá, como a música brasileira. Ele afirma que, muitas vezes, no Brasil, nossa música é desvalorizada e vista como algo menor perante às características europeias. 


Outra característica diferente encontrada por ele no MA, foi que além do fazer musical, os estudantes aprendiam sobre o fazer audiovisual. “Tínhamos que desenvolver, compor e registrar – gravar, filmar, editar, mixar, juntar tudo). O diretor do curso, Dr. Miguel Mera (meu orientador) dizia – se vocês não entenderem a linguagem “deles", vocês não podem esperar que “eles” entendam a de vocês. Sendo 'Eles' o cinema e 'nós' a música, no caso".


É possível perceber os resultados dos estudos de Felipe em seu trabalho. No seu canal no Youtube, ele publica algumas de suas obras, como a impactante música “JEU No.5 ”, onde nota-se o trabalho inovador da edição do vídeo, que ressalta visualmente os instrumentos conforme eles soam na música, um alinhamento da parte estética com som, resultando em um efeito surpreendente.


Parte do clipe musical Turbulenta do grupo Câmaranóva (música de Lea Freire, orquestrada por Felipe Senna)


Felipe teve uma experiência intensa de trabalho na Europa, quando fez o mestrado em paralelo com duas “residências de criação” nos conservatórios de Lannion e de Rennes, na França. Onde foi convidado para atuar em cursos de formação de professores e, também, de alunos de todas as classes e idades. “Viver, conviver e trabalhar com músicos profissionais, educadores e alunos da realidade europeia foi uma grande experiência. Fiz muitos amigos queridos e aprendi muito com todos e com o processo todo”. 


Após esse período, o músico retornou ao Brasil e deu início a um de seus sonhos: o projeto Câmaranóva. Onde selecionou músicos que eram “gente boa, do bem e a fim realmente de fazer música, além de terem altíssimo nível técnico e musical”. Ele conta se tratar de um grupo bastante inovador em relação a formação e seleção dos instrumentos, pois Felipe valorizou a escolha das pessoas e não se ateve a padrões tradicionais de organização instrumental, o que influencia o tom original e surpreendente das composições executadas pelo grupo.


Felipe deixa um conselho e uma inspiração final que serve tanto para estudantes de música, quanto para demais áreas: “na música e na vida, o conceito de sucesso (fama, reconhecimento ou dinheiro) e de realização se confundem. Eu sempre busquei realização e ter condições de trabalhar em projetos que me interessem e não apenas que me paguem. Para assim, poder me dedicar à criação (à minha “obra" por assim dizer) e não apenas à “obra dos outros". Nos últimos 10 anos, tenho conseguido isso cada vez mais. Acredito que isso vale igualmente aos músicos e artistas que se dedicam ao ensino, aos formadores e educadores. O importante é conseguir desempenhar seu papel seja ele qual for, e colaborar de todas as formas possíveis para o seu meio. Neste sentido, percebi aos 4, 5 anos de idade que meu espaço no mundo era ser músico e desde então torço para nunca me sentir ‘apenas trabalhando’ ou apenas fazendo', pois sinto que essa é a sensação que pode ter quem está trabalhando de forma dissonante de sua vocação, tive sorte nessa vida de descobrir a minha”. 








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