Diego Siqueira, diretor executivo da Quanticum e egresso da Unesp.
Série Empresas Filhas da Unesp
“Antes de ser empresário, sou cientista” declara Diego Siqueira, que é engenheiro agrônomo, mestre, doutor e pós-doutor pela Unesp, câmpus de Jaboticabal. A área de pesquisa do egresso é voltada para a Geofísica aplicada às Ciências Agrárias e Ambientais. Hoje, ele é diretor executivo da Quanticum, uma startup filha da Unesp, que é coordenada por três agrônomos formados na universidade, e utiliza uma tecnologia que é fruto de pesquisas unespianas.
A empresa foi criada em 2019 e a sua história é muito relacionada à experiência dos egressos, pois utiliza um método para “diagnóstico de solo” que vêm sendo estudado há décadas pelo Grupo de Pesquisa CSME (Caracterização do Solo para Fins de Manejo Específico). O CSME é coordenado pelo prof. dr. José Marques Júnior, que foi professor dos três ex-alunos responsáveis pela Quanticum: Renan Gravena, Diego Siqueira e Gustavo Pollo. O docente também orientou Gustavo, durante seu mestrado, e Diego, desde a Iniciação Científica até seu Pós-doutorado, com a co-orientação do prof. dr. Gener Tadeu Pereira.
A técnica estudada pelo grupo de pesquisa e utilizada na empresa consiste em fazer o diagnóstico e mapeamento do solo. Pode parecer complexo, mas Diego explica que esse diagnóstico é como o procedimento feito pelos médicos, para entender mais sobre o organismo de cada paciente e saber o que a pessoa está precisando.
Portanto, ao avaliar o solo, os cientistas conseguem saber qual o tratamento mais adequado e quais são as suas características. Com a aplicação da técnica, é possível adequar a terra para o plantio desejado, saber a quantidade adequada de fertilizantes, corretivos e herbicidas.
O egresso também conta que há uma preocupação em utilizar bioinsumos, que são produtos naturais e, por isso, são mais sustentáveis. Diego ressalta que a tecnologia utilizada pela empresa é totalmente brasileira:“geramos ciência nacional, que foi aprimorada porque escutamos os problemas dos agricultores”.
Como ressaltado pela reportagem da Agência FAPESP sobre esse estudo desenvolvido pelo CSME, os solos são formados por água, ar, matéria orgânica e minerais. Um solo pode ter mais quantidade de determinado mineral, como o Ferro, enquanto outro terá uma maior quantidade de Manganês, por exemplo. Essas e outras características fazem com que encontremos solos tão diferentes, mesmo que em regiões próximas. Diego conta que “cada local tem um potencial de terra diferente".
Análise da composição do solo. Foto: Grupo de Pesquisa CSME / Unesp
“É difícil dizer que uma terra é ruim e outra é melhor, elas têm aptidões diferentes, ou seja, propensões diversas. Uma pode ser mais propensa a infiltrar água, por exemplo”. Com a tecnologia utilizada pela Quanticum, eles conseguem executar o manejo da terra e adequá-la ao seu propósito. O serviço da empresa consiste em entregar ao agricultor uma espécie de mapa genético da área de plantio.
Além disso, uma parte importante do serviço da startup é a orientação ao agricultor. “Informamos sobre como utilizar os insumos, qual a melhor espécie para plantio, qual a melhor época para a colheita e como realizar o manejo da água de forma sustentável”, assim reduz-se os gastos e os impactos ambientais.
Ciência como chave para um manejo mais produtivo e responsável
“A sociedade precisa entender que o solo é um dos três principais recursos naturais do planeta. Estamos sempre falando sobre a preservação da água e do ar, mas não sobre o solo, deixamos ele como coadjuvante. Quando falamos de ciclo do Enxofre, Hidrogênio, Nitrogênio e Carbono, todos esses ciclos dependem da terra, dois terços do Carbono do planeta estão no solo. Se não conhecemos, não preservamos, um dos primeiros pilares para conseguir conservar a natureza é o conhecimento”. Ele também ressalta que pouquíssimos produtores utilizam essas práticas tecnológicas, que trazem mais sustentabilidade e, também, garantem bons resultados.
Diego ressalta que a Quanticum já mapeou mais de 1 milhão de hectares de terra.“Desses 1 milhão de hectares, temos toneladas de CO2 que estão na terra e que precisam de um manejo apropriado”. Pois, grandes emissões desse gás para a atmosfera também podem ser causadas por meio de práticas agrícolas inadequadas.
Com o auxílio da Ciência é possível entender todos os processos que já ocorreram e que ainda podem ocorrer no solo e, assim, é possível prever como as plantações vão se comportar no dia-a-dia. A Quanticum recebeu financiamento do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe) da FAPESP, para realizar um estudo sobre o mapeamento magnético tropical, voltado para a cafeicultura.
A empresa é parceira da maior cooperativa de café do mundo, a Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), que reúne 15,8 mil cooperados, sendo 95% deles pequenos produtores que vivem de agricultura familiar. Diego conta que o plantio de cafés especiais é um dos carros chefes da empresa, esses podem ter nuances de cacau, frutas, castanhas e outros. Os primeiros trabalhos nessa linha foram feitos com apoio da Fundaccer que é o braço de pesquisa da Federação dos Cafeicultores do Cerrado Mineiro e abrange mais de 4.500 cafeicultores. Também são realizados projetos em diferentes regiões produtoras de café com apoio da FAEMG (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), além projetos em outras culturas como cana-de-açúcar, soja, algodão e laranja.
Leitura de magnetismo do solo. Foto: Grupo de Pesquisa CSME / Unesp
O egresso também está no top 10 de pesquisadores no ranking internacional de magnetismo aplicado na agricultura e no top 1% no ranking de agricultura digital do “Portal Inovação do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação”. Ele afirma que a passagem pela Unesp foi fundamental para que a Quanticum pudesse atuar, toda sua carreira acadêmica desde a Iniciação Científica foi voltada ao mapeamento de solos. Ele afirma também que todos os egressos, que atualmente trabalham empresa, têm muito orgulho por possuírem o DNA da Unesp, e esperam perpetuar esse DNA por onde passarem.
Saiba mais sobre as empresas-filhas da Unesp por meio do e-book de empreendedorismo da AUIN.