
A facilidade com a escrita e o interesse pelos meios digitais fizeram com que Julia Dantas saísse da sua cidade natal, Leme (SP), e se mudasse para Bauru (SP), para iniciar os estudos em Jornalismo na Unesp em 2005. Depois de concluir sua graduação, ela atuou como jornalista, mas o desejo de ter novos desafios a fez retornar à Unesp para cursar o Mestrado em Mídia e Tecnologia. Hoje, Julia trabalha com Marketing Digital, além de ser mãe do Raul, que nasceu em 2020. A maternidade fez com que a jornalista voltasse sua atenção para questões enfrentadas pelas mães que são profissionais.
Julia conta que ao ingressar na Unesp sentiu uma felicidade enorme por estar em um “câmpus grande e vibrante, com muitos cursos”. A entrada no mestrado profissional ocorreu 7 anos após a sua graduação, ela conta que a maturidade adquirida durante esses anos fez com que ela pudesse aproveitar mais o que a universidade tinha a lhe oferecer.
Na pós-graduação, ela também teve a oportunidade de atuar como professora substituta. “Resolvi me dedicar exclusivamente ao mestrado e foi uma fase em que estudei muito. Foi também quando eu pude dar aulas como bolsista para o curso de graduação, uma experiência que marcou a minha carreira profissional pois é um trabalho solitário, desafiador mas também muito gratificante. Foi uma época em que senti muita vontade de voltar a estudar e também de contribuir com a experiência profissional que eu já tinha para a academia”, explica.
Quando Julia se tornou mãe do Raul, ela passou a ter que equilibrar a sua vida profissional com a maternidade. Entretanto, essa tarefa não é simples pois a sociedade e grande parte dos ambientes de trabalho não encaram com seriedade os cuidados que uma criança pequena demanda. “Quando você exclui uma criança, você exclui uma mãe", ressalta a unespiana.
Maternidade e vida profissional: tabus, desafios e novas percepções
A jornalista afirma que as mães trabalhadoras encaram problemas no ambiente profissional: “Falar sobre os cuidados com os filhos chega a ser um tabu, como se isso te colocasse como alguém menos profissional. Muitos empregadores enxergam a maternidade como uma desvantagem ou falta de empenho no trabalho, fazendo com que os índices de demissão após a licença-maternidade sejam altíssimos, perto dos quase 50%”.
Entretanto, ter uma profissão foi um dos fatores que fez com que Julia tivesse um resgate com a pessoa que era antes de ser mãe e voltasse exercer suas habilidades para além da maternidade. Além disso, a própria percepção do trabalho em sua vida foi transformada.
“Antes de ser mãe, eu já sabia do meu valor como profissional e me sentia à vontade com o meu ofício. Isso permanece o mesmo após a maternidade. Porém, o que mudou foi o papel que o trabalho ocupa em minha vida. Eu sempre tinha a sensação de que estava no lugar errado ou que poderia ter conquistado mais como profissional se tivesse tomado decisões diferentes. Depois de ser mãe, essa questão se dissipou totalmente. O trabalho ganhou outro significado. Para mim, importa mais que eu consiga exercer o meu ofício para ter meios de oferecer uma vida digna não só pra mim, mas principalmente para uma pessoa totalmente dependente”.

Julia Dantas com o filho Raul. Foto: arquivo pessoal da egressa.
Desigualdade social na maternidade: questões práticas fazem a diferença
Ao adentrar na vivência das mães no mercado de trabalho é impossível não encontrar barreiras governamentais, como a escassez de vagas em creches públicas, que prejudica famílias de baixa renda. Segundo a Agência Brasil, entre as famílias mais pobres apenas uma em cada quatro crianças, de até 3 anos, frequentam creches.
Julia complementa: “Muitas vezes, as creches não ficam com a criança até o fim do horário comercial, fazendo com que a mãe tenha que sair mais cedo para buscar os filhos ou com que ela precise pedir para alguém buscá-los. Sem poder pagar uma babá, muitas mães acabam pedindo demissão de seus empregos e fazendo uma pausa compulsória em suas carreiras. É justamente após ter filhos que a diferença salarial entre homens e mulheres começa a ser mais gritante. Assim, as mulheres mais pobres entram em uma situação de vulnerabilidade financeira e social”.
Para conseguir trabalhar, é fundamental ter com quem deixar a criança durante o horário do expediente. “Ter uma rede de apoio influencia diretamente na nossa saúde mental, na nossa gestão do tempo e no foco que teremos durante o horário de trabalho”.
Julia também explica que o regime home office (trabalho remoto) com uma criança dentro de casa também não é uma solução, pois a mãe acaba tendo que equilibrar dois pratos ao mesmo tempo, já que uma criança pequena demanda atenção constante.
A egressa chama atenção para a ampliação da licença-maternidade para 6 meses, porque a criança ainda está na fase de aleitamento materno exclusivo. Há ainda o problema da licença-paternidade ser de apenas 5 dias, sendo que além do bebê, muitas vezes, a mãe também precisa de cuidados depois do trabalho de parto.
“Os pais já são apartados de um cuidado mais próximo com os filhos desde o seu nascimento. Isso alimenta um círculo de responsabilização total dos cuidados com os filhos para com a mãe”, comenta Julia.
A unespiana critica as empresas que têm um discurso público em prol das mulheres, mas não colocam em prática esses pensamentos: “é desafiador é encontrar um trabalho que compreenda os ‘perrengues’ que uma mãe com filho pequeno passa no dia a dia, como lidar com filhos doentes frequentemente, por exemplo”.
Mesmo com esses desafios, a egressa se mantém trabalhando e sonha com seu futuro profissional. A jornalista deseja ter uma velhice ativa, se manter trabalhando e tendo orgulho do que produz. Além disso, busca estabilidade financeira para manter sua independência financeira durante a velhice. Para seu futuro como mãe, ela conclui: “Quero que meu filho se torne uma pessoa firme nos valores que estamos ensinando dentro de casa e que vão precisar ser reforçados a todo tempo, pois sabemos que estamos nadando contra a corrente na luta contra uma sociedade patriarcal, racista e classista”.