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Ana Carolina de Carvalho Viotti é graduada, mestre e doutora em História pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (FCHS) da Unesp no câmpus de Franca. Em 2020, com o isolamento social, a pesquisadora encontrou na Culinária uma forma de continuar ensinando os estudantes e realizar a divulgação científica de suas pesquisas, alcançando um público maior e mais diverso. Foi assim, que nasceu o “Comer História” um projeto disponível no Youtube e no Instagram que ensina fatos históricos através de receitas.
A Profa. Dra. Ana Carolina, que leciona na Unesp em Marília, e seu companheiro, Prof. Dr. Rafael Afonso Gonçalves, são os criadores do projeto. Após alguns meses, o Dr. Gabriel Ferreira Gurian também passou a integrar a equipe de historiadores do “Comer História”. Todos os participantes são egressos do câmpus de Franca.
Os pesquisadores utilizam livros, documentos e jornais a fim de recuperar as receitas originais de determinada época e, também, trazer a factualidade como um dos ingredientes da história que será contada. Assim, pode-se perceber que muitos dos pratos que consumimos hoje possuem influências de diversos países e podem ter sido criados há séculos.

Os três historiadores egressos da Unesp e organizadores do "Comer História", Dr. Gabriel Ferreira Gurian, Profa. Dra. Ana Carolina e Prof. Dr. Rafael Afonso Gonçalves. Foto: arquivo pessoal da egressa.
As receitas são expressões culturais, pois possuem um contexto histórico e um local de origem. Por isso, é possível aprender mais sobre a História de um povo ao analisar a sua culinária, como sintetiza a profa. dra. Ana Carolina: “O que as mulheres e os homens do passado têm para nos contar por meio da forma mais gostosa que existe? A comida!”.
A docente conta que seu interesse por História surgiu em sua época escolar, enquanto a Culinária a acompanhou em seu ambiente familiar. “Tenho cozinheiras de mão cheia na família. Fazer a comida e comer junto sempre foi um momento importante, algo que era valorizado e que nos reunia. O interesse veio pelo gosto de comer bem e por querer reproduzir o que essas mulheres faziam. À medida que fui aprimorando, esses modos de cozinhar se tornaram tanto uma atividade de lazer pra mim, quanto uma forma de expressar afeto. Depois, a Culinária e a alimentação como um todo foram ganhando tanto corpo como objeto de pesquisa como ferramenta de ensino, sobretudo com o projeto.
Divulgação científica: a didática para fora dos muros da universidade
Em julho de 2020, o período de isolamento dentro de casa, fez com que a historiadora inventasse uma forma mais descontraída de ensinar: “Estávamos no auge da pandemia, quando discussões que aconteciam em casa, sempre à mesa, foram se mostrando mais urgentes: com a necessidade de fazer tudo à distância, em ocupar os estudantes, em criar estratégias de ensino e de didática que os sensibilizasse de formas diferentes. Parecia urgente pra nós tentar contribuir com algum tipo de projeto e de material. Desse primeiro impulso, acrescido de uma intensa atividade culinária em casa, começamos a pensar na comida como um recurso interessante para pensar, ensinar e aprender História ”, conta a professora.
A egressa conta que a resposta do público foi positiva desde o início, o engajamento a levou a criar o perfil do projeto no Instagram, onde há cerca de 50 mil seguidores. “Apesar de eu e o Gabriel pesquisarmos diretamente temas da História Moderna e História do Brasil colonial, o projeto não se restringe a esse recorte geográfico ou temporal. Para tentar ampliar o escopo de atuação e de interesses plurais de alunos, professores e público geral que engaja com o nosso conteúdo, utilizamos as técnicas e metodologias de pesquisa que dominamos para investigar temas plurais”, explica a docente sobre as seleções dos temas que são abordados.

Criar vídeos para o Youtube não é uma tarefa simples: os bastidores da gravação. Foto: arquivo pessoal da egressa.
O “Comer História” alcança um público de fora dos muros da universidade, amplificando o ensino sobre a área. A docente conclui: “Colocar essas histórias à mesa proporciona uma troca de conhecimento tão grande que seria impossível sem a amplitude da internet e das redes. Por isso tudo, o projeto, na minha opinião, não só cumpre a função de ampliar e tornar acessíveis pesquisas realizadas na academia como cria um canal de comunicação da sociedade com ela; realiza, portanto, um duplo trabalho de divulgação científica e história pública”.
O projeto também aceita sugestões de receitas para serem pesquisadas historicamente e divulgadas pelas plataformas do “Comer História”, para isso basta se comunicar com os participantes do projeto no chat do perfil no Instagram.