
Em dezembro de 2020, a egressa Gabriele Leite, de 23 anos, descobriu que seu nome estava na lista Forbes Under 30. Uma seleção que “destaca os mais brilhantes empreendedores, criadores e game-changers brasileiros abaixo dos 30 anos” segundo a Revista Forbes. A seletiva possuía 15 categorias, entre elas Música, na qual a violonista formada pelo o Instituto Artes (IA) foi uma das pessoas escolhidas.
A jovem é recém-formada no curso de Bacharelado em Música com Habilitação em Violão da UNESP. Atualmente, Gabriele é mestranda na renomada instituição “Manhattan School of Music”, onde conseguiu uma bolsa integral de estudos, no ano passado. Infelizmente, devido a pandemia, a musicista ainda não conseguiu colocar seus pés em Nova York, mas assim que o cenário estiver favorável, ela irá para os EUA, para acompanhar presencialmente suas aulas, que no momento estão sendo virtuais.
Gabriele já foi vencedora de diversos concursos de violão no Brasil quando ainda estava na faculdade, ela se destaca por sua habilidade técnica e versatilidade no instrumento. Em 2019, teve um dos momentos mais marcantes de sua carreira, quando foi semifinalista do concurso internacional de violão de Koblenz, na Alemanha, e ganhou o prêmio de “melhor participação brasileira”.
A sua atuação no mundo da música já a levou para diversos países e concursos, mas tudo começou no Projeto Guri em Cerquilho (SP), um programa sociocultural que é mantido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. O projeto oferece aulas de música gratuitas para crianças de 6 a 18 anos.
Gabriele, ainda criança, já demonstrava muita afinidade com a música e transformava objetos como baldes e vassouras em seus instrumentos musicais de brinquedo. Percebendo esse interesse, os pais a matricularam no Projeto Guri, quando ela tinha 7 anos. Assim, iniciou suas aulas de violão e, mesmo sendo extremamente jovem, se dedicou muito. Aos 11 anos foi aprovada no Conservatório de Tatuí, por onde passaram tantos músicos brasileiros renomados.
A musicista conversou com a equipe do Portal Alumni e contou sobre sua carreira, sua nova bolsa de estudos e sua relação com a Unesp.
Acredito que a sua escolha por estudar música tenha sido “óbvia”, mas e a escolha pela Unesp como ocorreu?
Eu cheguei a prestei para outras faculdades estaduais, com cursos de violão excelentes, mas digo que a Unesp me escolheu e não fui eu que escolhi ela. Acabou que passei só na seletiva da Unesp e foi amor à primeira vista. Hoje em dia, olhando para trás faz todo o sentido ter estudado lá, amei, na verdade, porque conheci professores excelentíssimos e alunos que já faziam parte da minha vida na música.
Qual foi sua primeira viagem internacional devido a sua atuação na Música?
A minha primeira viagem internacional foi com o ‘Quarteto Abayomi’, fizemos uma turnê na Argentina por 5 dias, foi incrível, além de ter sido uma viagem muito divertida. A Música sempre me abriu muitas portas, pude viajar para fora do país e ainda mais levando a nossa cultura, uma experiência que me dá um sentimento de muita gratidão.
Quando que “caiu a ficha” que a sua carreira estava evoluindo muito rápido?
Na verdade, na Música você sempre demora muito para ter resultado. Talvez a minha ficha não tenha caído ainda, sempre continuo estudando, porque sei que demora para alcançar grandes resultados e colher os frutos de tudo isso, mesmo tocando há mais de 15 anos. Mas as coisas estão caminhando, aliás sempre caminharam, e, de fato, toda essa repercussão nacional que vem tendo é algo muito legal de ver e cresceu muito rápido . Acho importante sempre termos constância no que fazemos e não desistir, mesmo com altos e baixos.
Dentre todas essas experiências, de viagens, concursos, etc. Teve alguma que mais te marcou?
Várias experiências me marcaram, mas teve uma especial que foi na Alemanha, onde participei de um festival e um concurso. Lá pude ver o quanto a nossa educação musical, mesmo com a escassez de recursos públicos, tem uma alta qualidade, os músicos brasileiros representam muito bem nosso país. Senti isso estando lá, em uma competição altamente qualificada com um pessoal que mora na Alemanha, consegui passar para a semifinal neste concurso internacional, fiquei muito feliz e consegui ganhar uma premiação de “melhor participação brasileira”. Isso foi muito significante, na época tive que vender um instrumento para conseguir fazer essa viagem. Então foi uma experiência ímpar. Acho que a gente vai crescendo muito com todas essas vivências, que vão aparecendo ao longo da vida.
Pode nos contar um pouco sobre sua candidatura e aprovação no Manhattan School of Music?
É uma aplicação na qual mandamos redações e depois temos uma audição, há também as provas de idiomas, mas eu fiz um processo um pouco diferente. Eu mandei as redações, mas não consegui estar lá presencialmente para audição de violão, então mandei vídeos com o repertório que pediram. Foi algo bem peculiar, porque achava que não conseguiria uma bolsa por não ter feito o teste presencialmente, aí tive a surpresa de que tinha conseguido uma super bolsa e que seria possível que este sonho virasse realidade. Ainda estamos nesta época de pandemia, por isso ainda não consegui tirar o visto e não consegui ir fazer o curso presencialmente, mas eles também abriram a possibilidade de cursar de modo remoto. Então, estou no Brasil ainda, fazendo esse mestrado a distância, mas fiquei muito feliz, não imaginava que um dia passaria em uma instituição estrangeira, com bolsa e que os professores iriam gostar de mim. Fico também grata com todo o aporte anterior que tive, na Unesp, no Conservatório de Tatuí, foram super importantes, assim como todos os professores que estiveram na minha trajetória.
A sua carreira tem impactos positivos não só na música, mas também sobre questões de representatividade. Como se sente ao inspirar garotas de classes econômicas mais baixas e, principalmente, negras? Quais conselhos você daria para elas?
Esse lance da representatividade é algo muito engraçado, precisei me identificar como mulher negra e entender o ambiente em que estava, as coisas foram acontecendo e acabei me tornando esta figura, que representa muito dentro do cenário da Música. Fico honrada de estar aqui e desejo que não seja só eu, que mais garotas consigam trilhar seus caminhos. Uma coisa que sempre digo é que quando a gente chega, não chegamos sozinhos, tive todos meus ancestrais que lutaram contra barreiras diárias. Então ser “a preta que deu certo”, é um título que não quero só para mim, quero que mais pessoas consigam ter acesso a isso. Meu conselho é: não desiste! É difícil, a gente cai e, às vezes, a gente não está bem, mas foca no seu sonho e segue adiante, as coisas dão frutos quando a gente menos espera.
Quais são os principais desafios em seu mestrado?
O principal desafio do mestrado com certeza é a língua, sem sombra de dúvida. Outro ponto vai ser a cultura quando eu for para lá, acredito que vai rolar um choque sim, mas um lado legal é que a Música é algo tão universal que conseguimos desenrolar, percebo que, no final das contas, é todo mundo igual, com o mesmo sentimento, o mesmo feeling e as coisas acontecem. As barreiras linguísticas e culturais são quebradas quando estamos unidos pela música. Com certeza vou aproveitar muito.
Você sente que a Unesp contribuiu para você ser a profissional que é hoje?
Sem dúvidas, a Unesp foi um ponto muito importante, porque foi quando as coisas começaram a acontecer. Quando estava no terceiro ano da faculdade, ganhei todos os concursos de violão no Brasil, o que me possibilitou ir para a Alemanha. Também fiz um recital de TCC maravilhoso, nunca tinha visto o teatro do IA tão cheio, tinha muita gente, fiquei muito contente com o carinho das pessoas que admiram meu trabalho e que estavam lá presentes. Sou grata a todos os professores, aulas, dicas, provas, cafés que tomamos juntos, tudo isso tem uma contribuição gigante no meu processo de violonista. Sem dúvidas foi uma casa muito boa, é bom que na faculdade você tem tempo para errar e para começar de novo. Tenho muitas saudades do IA, um enorme carinho por todos os funcionários e professores, espero sempre poder voltar ao IA e mostrar um pouco do meu trabalho, a Unesp é uma casa, onde podemos voltar e relembrar os bons momentos.
Para acompanhar a jornada da jovem no mundo da música, siga seu instagram @gabrieleguitar, onde ela publica vídeos tocando e mostrando um pouco de sua rotina como musicista.